quarta-feira, 20 de outubro de 2010
Perdi o Sono
Perdi o sono. A paciência anda curta. Tô desaprendendo uns óbvios. Logo eu, que falo tanto neles. Eu tenho medo de perder o brilho. Eu tenho uns medos intensos, que não são permanentes, mas quando aparecem, me surpreendem e me tremem o chão. Queria que você me ouvisse. Não queria que lesse. Queria conversar com você. Eu sinto falta de conversar no plano real. Sem cenas, sem pensar que a gente está falando de uma coisa e fingindo que estamos falando de outra. De dizer assim olha, eu tô me sentindo um merda hoje. E eu nem deveria me sentir assim. Mas eu... Não me abandone não. Quando eu começar a perder as cores, me sacode, me dá um soco, um tapa na cara, não me deixe ir com todos os outros. Eu não tenho planos de romper com a minha palavra. Não tenho coragem nem de ir ao dentista, a uma porra de um dentista. Fiquei uma semana em casa sem trabalhar por simples falta de vontade de encarar o cotidiano que ás vezes parace corroer meus sonhos.
Você sabe impressionar. Eu sei que você sabe que sabe. Você recebe bem, você faz com que as pessoas se interessem por você. Essa é uma característica linda sua. Você marca. Você causa um impacto. Deixa um rastro sutil. Daí eu tava pensando que no dia à dia, você não age dessa forma. No dia à dia, você é você. Sem a preocupação de ter que mostrar esse homem misterioso, educado e inquieto, refinado e metido. Eu não sei bem ainda se essas pessoas que participam dos teus dias te escolhem como amigo e enfrentam o que eu chamaria de 'luta' para permanecer sem cair fora do barco – e eu quero te elogiar aqui, juro que não estou fazendo o louco e entrando numa de te ofender – ou se é você quem escolhe as pessoas e vai, da tua maneira, sem dar nome aos bois, depositando a confiança, a vida, a intimidade no teu longo tempo, sem deixar que ela abandone o barco, remando junto, muitas vezes. Não sei. De repente, é uma junção dos dois. Eu perdi o sono. E tenho essa sensação latejando de que eu preciso, na verdade, encontrar alguma coisa que eu não sei o que é. E eu lembro da Camille Claudel que eu revi ano passado e a Isabele Adjani dizia que 'existe sempre alguma coisa ausente que me atormenta', acho inclusive se não falha a memória que existe uma placa na casa onde ela viveu em Paris, com essa frase. O Caio Fernando Abreu fez uma crônica sobre essa passagem. E foi ele quem me instigou para que eu entrasse em contato com essa mulher.
O fato, moço, é que eu sinto sim a falta do real entre nós. E eu insisto de verdade que não quero e não vou te cobrar uma pessoa que você não é. Eu só estou respeitando a pessoa que eu sou. De dizer as palavras. De dar nome. Porque dando um nome, pintando com as cores, eu me sinto mais seguro e menos louco. Eu quero acordar amanhã e olhar a paisagem de Santa Teresa e te ouvir e dizer de verdade que eu estou feliz de te ouvir. E essa coisa da imagem que representa é muito confusa e bonita. Muitas pessoas me perguntam sobre você. Me associam ao teu universo e deve ser comum, afinal são dez meses e tantas pessoas em comum. Eu não sei se elas têm medo de se aproximar de mim. Eu não sei se sou desinteressante o suficiente para que elas anulem a minha história e queiram saber da sua. Eu não sei. Eu procuro responder, satisfazer as urgências da curiosidade alheia, sem muitos detalhes. Eu não vou terminar dizendo que eu te amo, porque isso não se diz. Eu queria muito que você respeitasse esse desabafo porque ele é muito simples. E mais que tudo, embora confuso, ele é sincero. Eu não sei viver sem você. Eu não saberia como conduzir o barco sem ter você por perto, mas eu tenho uma ponta de curiosidade de arriscar como seria. Bateu forte essa sensação sem nome. E acho que eu vou deixando de sentir, vou não me importando com as minhas questões e chega uma hora, que elas explodem de tal forma, que as palavras brincam de lâmina. Eu preciso dormir. Ou deitar apenas. Sem sonhar. Eu não sei mais o que te dizer. Mas não deixe passar em branco, como uma conversa pela metade. Ou um assunto sério que a gente tratou em forma de metáforas. Ou raras palavras. Queria chorar esse choro preso. E voltar a me encaixar no humor que nos guia. E nos enaltece.
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