sábado, 6 de novembro de 2010

Brasil - O País das Cantoras


Nelson Motta diz que o Brasil é o país das cantoras, e eu concordo com ele.A música brasileira até o final da década de 80 não tinha tanto compromisso com paradas de sucesso e vendagens de determinado artista ou moda, e isso propiciou que nos tornássemos o único país onde forças brutas como Clementina de Jesus e Tetê Espíndola conseguem se destacar com tamanho brilhantismo e notoriedade. É impensável duas cantoras desse tipo fazendo sucesso nos Estados Unidos, por exemplo. Muita gente adora a música americana. Particularmente prefiro milhões de vezes um bom sambinha de Geraldo Pereira ou Noel Rosa a qualquer standard de Cole Porter, e quando escuto as cantoras americanas de maior sucesso dos últimos anos sempre tenho a sensação de que elas seguem uma cartilha de canto, uma obrigação de demonstrar virtuosismo e potência vocal o tempo inteiro, como que para provar que são cantoras de verdade. Não conhecem a suavidade, a sutileza, cantam o tempo inteiro a plenos pulmões, chegando uma hora que o estilo pessoal se dilui, ficando todas com a mesma “cara”. Claro que existem exceções, como Billie Holiday, Janis Joplin, Tina Turner, Nina Simone, Ella Fitzgerald ou Sarah Voughan, definitivamente grandes e inimitáveis cantoras, mas só o Brasil produz tantos contrastes entre o estilo de suas principais vozes: Gal Costa, Elis Regina, Nana Caymmi, Maria Bethânia, Simone,Angela RorÔ Nara Leão, etc. não se parecem em nada umas com as outras. E o mais interessante é notar que estudando a fundo suas discografias, se encontram muitas canções em comum, mas com interpretações totalmente diversas. Nossas cantoras refletem a pluralidade do nosso país, o contraste entre o sofisticado e o primitivo, o urbano e o selvagem, e deveriam ser motivos de orgulho nacional.
  A paixão por cantoras surgiu ainda na infância, literalmente: a primeira música que lembro ter ouvido na vida foi Baby na voz de Gal e isso me marcou profundamente, eu era completamente fissurado por Gal Costa e Maria Bethania.(ainda sou). Somando-se a estas estava minha admiração por Elis Regina, Nana, Simone, Elba Ramalho, Alcione, Zizi Possi, as cantoras que mais ouvi no rádio quando garoto. Na adolescência descobri mais profundamente o trabalho de Gal Costa, a fase tropicalista, os anos 70, seus antigos sucessos, e a admiração por cantoras se adensou com ela, que ainda é minha cantora favorita, juntamente com Bethânia. Já adulto descobri as pioneiras, aquelas cantoras que começaram essa história toda. O que antes era apenas uma mulher fantasiada de baiana com um cacho de bananas na cabeça e uma jurada mal-humorada do programa de Sílvio Santos, se transformaram em Carmen Miranda e Aracy de Almeida, e a elas se juntaram Dalva de Oliveira, Ângela Maria, Ademilde Fonseca, Dolores Duran, Linda e Dircinha Batista, Araci Cortes, Carmen Costa, Marília Baptista e muitas outras.
  No final da década de 80 começou a derrocada da programação radiofônica. Quase nada do que se escuta no rádio desde esse período tem sido animador, salvo raras excessões, como Marisa Monte ou Adriana Calcanhoto. Foi a partir daí que começou meu interesse pela MPB mais alternativa, que não alcança as paradas de sucesso, mas que tem proporcionado os melhores momentos da música brasileira dos últimos anos. Foi quando conheci Cássia Eller (que só veio a se tornar um grande sucesso anos depois de gravar o primeiro disco), Ná Ozzetti, Jussara Silveira, Paula Lima, Mônica Salmaso,Zélia Duncan, Rita Ribeiro, Fernanda Porto, Rebeca Matta, Roberta Sá, Céu, Ceumar,Marina dela Riva,Vanessa da Mata, descobertas que me fazem ter certeza que a MPB vai muito bem. O que vai mal é a cínica, preguiçosa, ganaciosa, mercenária, indústria de entretenimento nacional, que só aposta no que pode haver de pior, mas que tem retorno financeiro rápido e fácil.
A MPB não só merece um resgate de suas raízes, mas a exposição de seus novos talentos, e as cantoras fazem parte disso.
Não poso deixar de comentar os sucessos nos últimos anos de Ana Carolina e mais recentemente de Maria Gadu, até já me perguntei se elas não são fruto de um trabalho de contrução da indústria fonografica e feitas para vender discos.Bem, se são ou não, pouco me importa, que 2011 traga mais Marias e Anas.






Nenhum comentário:

Postar um comentário