quarta-feira, 12 de janeiro de 2011
Amor líquido – sobre a fragilidade dos laços humanos, de Zigmunt Bauman
Terminei de ler "Amor líquido – sobre a fragilidade dos laços humanos", de Zigmunt Bauman, respeitado sociólogo da atualidade e professor emérito de sociologia das universidades de Leeds e Varsóvia, e autor de diversas obras publicadas como “O Mal-Estar da Pós-Modernidade”, “Medo Líquido”, “Modernidade e Ambivalência”, “Modernidade e Holocausto”, “Modernidade Líquida” e “Amor Líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos”.
Nesta obra o autor estende o conceito de “líquido” para as relações humanas na pós-modernidade. Mas o que significa tal conceito? Trata-se de uma característica essencial da pós-modernidade: tudo se torna frágil, duvidoso, frouxo, livre e inseguro. Bauman estende o conceito “liquido” para entender toda pós-modernidade e, muitas vezes, é criticado por isto. Todavia, naquilo que diz respeito à obra Amor Líquido, o autor consegue resultados consideráveis e, deste modo, ilumina as relações amorosas do século XXI e destaca que a frouxidão é a principal característica de tais relações. Bauman, logo nas primeiras páginas deixa claro o objetivo do seu trabalho: “A misteriosa fragilidade dos vínculos humanos, o sentimento de insegurança que ela inspira e os desejos conflitantes (estimulados por tal sentimento) de apertar os laços e ao mesmo tempo mantê-los frouxos, é o que este livro busca esclarecer, registrar e apreender.” A fragilidade dos vínculos humanos são misteriosos, conflitantes e inseguros na medida em que o homem contemporâneo está abandonado ao seu próprio aparelho de sentido, de modo que tal aparelho tem, ao mesmo tempo, grande facilidade de conceder e descartar sentido nas “relações amorosas”. O homem moderno, ávido por relacionar-se, ao mesmo tempo em que busca uma relação, e desta maneira repudia a solidão, não abre mão de sua liberdade, e para manter a liberdade mantêm a relação, entretanto com uma outra configuração . Desta maneira, temos um novo modelo de relação amorosa: é a relação líquida, frouxa. O homem moderno busca o outro pelo horror à solidão, mas mantêm este outro a uma distância que permita o exercício da liberdade. Diante da dúvida é que o outro e o eu se relacionam, toda relação oscila “entre sonho e o pesadelo e não há como determinar quando um se transforma no outro”. A co-presença da satisfação e insatisfação da relação traz mais uma vez a dúvida à baila: devemos escolher sabendo dos riscos do nosso investimento, todavia, os casais “estão sozinhos em seus solitários esforços para enfrentar a incerteza". Bauman deixa claro que a relação pode acabar numa manhã de sol que o outro – este que um dia antes disse “eu te amo – levanta-se da cama e exclama: acabou! Como entender tal mistério? Quais idéias que se auto-organizaram para tal catástrofe? – catástrofe para aquele que perde o objeto de amor “garantido”. Como sobreviver depois deste salto, ou melhor, do céu ao inferno em uma noite? “O amor, dirá Bauman, pode ser, e freqüentemente é, tão atemorizante quanto a morte. [...] Assim, a tentação de apaixonar-se é grande e poderosa, mas também o é a atração de escapar.” Diante desta atração e medo o homem faz suas escolhas e Bauman as analisa.
O relacionamento passa a ser um investimento: a satisfação e a dor são proporcionais ao investimento. “Um dilema, de fato: você reluta em cortar seus gastos, mas abomina a perspectiva de perder ainda mais dinheiro na tentativa de recuperá-los. Um relacionamento, como lhe dirá o especialista, é um investimento como todos os outros: você entrou com tempo, dinheiro, esforços que poderia empregar para outros fins, mas não empregou, esperando estar fazendo a coisa certa e esperando também que aquilo que perdeu ou deixou de desfrutar acabaria, de alguma forma, sendo-lhe devolvido – com lucro.” O investimento pressupõe “lucro” – uma relação firme e feliz capaz de gerar satisfação para sempre –, todavia, não tendo este como resultado o que resta é uma desolação de tempo perdido e trabalho desperdiçado como esforço inútil. Baumam salienta que um relacionamento ocasionará muita “dor de cabeça”, mas antes de qualquer coisa e acima de qualquer estância “uma incerteza permanente”. O ar pessimista da obra mostra que a mesma dificuldade que se tem para amar pode ser transposta para a morte, pois é tão difícil aprender a amar quanto a morrer.
Os “insights” de Bauman na obra “Amor Líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos” são inúmeros e destacam comportamentos do nosso dia a dia, do que há de mais concreto na vida do homem moderno com suas relações de amor: seus acessórios tecnológicos – que alimenta a crença de um mundo melhor e tranqüilo –, a busca ensandecia pelo sentido, a crença no amor como oasis em um mundo trágico e violento, as relações como uma rede computacional, a imprevisibilidade das relações, a queda da distinção entre o regular e o contingente, a traição, os relacionamentos de bolso – que podem ser usados quando as partes bem entenderem –, o cartão de crédito como forma de antecipação da satisfação, a subordinação do amante e a opressão do amado, etc. “Todos os amantes desejam suavizar, extirpar e expugnar a exasperadora e irritante alteridade que os separa daqueles a que amam. Separar-se do ser amado é o maior medo do amante, e muitos fariam qualquer coisa para se livrarem de uma vez por todas do espectro da despedida. Que melhor maneira de atingir este objetivo do que transformar o amado numa parte inseparável do amante? Aonde eu for você também vai; o que eu faço você também faz; o que eu aceito você também aceita; o que me ofende também ofende você. Se você não é nem pode ser meu gêmeo siamês, seja o meu clone!”. O relacionamento na pós-modernidade seria mais uma forma de massificação e obliteração da subjetividade? A crítica filosófica – diante deste ataque à capacidade humana de pensar, refletir e entender as relações – seria uma forma de voltar à caverna para trazer à luz os casais presos e encantados com as sombras da caverna? Bauman dá os primeiros passos neste resgate.
Quanto investimento sem retorno nessa vida, rs.
ResponderExcluirAdoro este livro. Fundamental para qualquer estante.
Parabéns pelo seu blog. É um blog crítico, cujo blogueiro coloca em pauta sua real opinião sobre determinado livro, assunto. Quero muito ler este livro, vou correr atrás.
ResponderExcluirConcordo com a sinopse criada por vc mesmo sobre o livro, acho que o amor é líquido não somente nos relacionamentos amorosos, mas em todo tipo de relacionamento hoje em dia, onde o "te amo" virou "bom dia".
O amor, dirá Bauman, pode ser, e freqüentemente é, tão atemorizante quanto a morte.
Perfeito.
Nossa, muito bom parabéns
ResponderExcluirhttp://gabriellduarte.blogspot.com/
Sempre dando ótimas dicas de leitura! :D
ResponderExcluirNossa, esse livro esta na minha estante desde o começo do ano. Já dei uma folheada mas tenho que lê-lo para minha pesquisa e pela sua resenha vi que não estava tão errado quando o inclui na minha bibliografia.
ResponderExcluirAbraço, parabéns pelo texto
Eu já li sobre este conceito de amor líquido, que eu apelidei de fast love. E bem que poderia ser só ficção, não?
ResponderExcluirPs: Toda vez que venho aqui, tenho a certeza que preciso ler mais.
Beijos
Amor líquido...? Conceito bem sólido, penso eu. rsrs... e concordo com a Érica... preciso ler mais. :)
ResponderExcluirOi,Evandro!Obrigada pela visita ovlte sempre.O livro parece ser bem interessante,as relações humnaas estão cada vez mais fragéis memso.
ResponderExcluirVou anotar o livro na minha lista já!
Beijosss
Li este livro ano em 2009.
ResponderExcluirGostei bastante do que li. Alguns velhas opiniões porém novas incertezas ;)
Espero sua visita!