Aproveitei a quente tarde de sábado no Rio de Janeiro para visitar os sebos da praça Tiradentes em busca do que acabei encontrando.
Comprei um livro de Katherine Mansfield, autora nascida em 1888, na Nova Zelândia, e educada na Inglaterra.
"Bliss" (Felicidade) foi publicado no Brasil nos anos 50, na época em que a Globo editava autores clássicos traduzidos por grandes escritores. A tradução belíssima. impecável, é do escritor gaúcho Érico Veríssimo, autor de best-sellers nacionais como O Tempo e o Vento. Incidente em Antares e Solo de Clarinete. Reeditado pela Nova Fronteira no início dos anos 70, este volume está, há tempos, esgotado. Consegui a edição da década de 50. Um belo livro de contos.
Os meus contos preferidos são: "Casa de Bonecas"que retrata o ambiente acanhado da cidade natal da autora: em torno de uma brincadeira, explodem os preconceitos e fixações de uma sociedade provinciana. " A Festa no Jardim" onde a autora cria ambientes da Nova Zelândia, no transcurso de um episódio corriqueiro, a festa, abre-se a questão da vida e da morte. E "A Mosca", um rápido e derradeiro sobrevôo, o vislumbre dos horrores da guerra que tanto angustiou e deprimiu a escritora em seus últimos anos.
Conheci Katherine Mansfield através de Clarice Lispector, sua leitora. Poucos sairão incólumes depois de conviver algumas páginas com a prosa de Katherine Mansfield. Provavelmente, o leitor repetirá o gesto de Clarice Lispector em alguma livraria empoeirada. Uma breve e suave pausa no abrasivo noticiário destes dias.
Os críticos acham difícil definir a arte de Katherine Mansfield, considerada a maior contista de língua inglesa de sua geração. Para qualquer leitor, em todo caso, sobressai sua sensibilidade, sua extrema delicadeza e sua habilidade de dizer muito em poucas palavras. Palavras vivas, espontâneas, simples. Personagens reais, incrivelmente reais em sua trivialidade. Uma aula de canto.
Soneto a Katherine Mansfield
Vinicius de Moraes
O teu perfume, amada — em tuas cartas
Renasce, azul... — são tuas mãos sentidas!
Relembro-as brancas, leves, fenecidas
Pendendo ao longo de corolas fartas.
Relembro-as, vou... nas terras percorridas
Torno a aspirá-lo, aqui e ali desperto
Paro; e tão perto sinto-te, tão perto
Como se numa foram duas vidas.
Pranto, tão pouca dor! tanto quisera
Tanto rever-te, tanto!... e a primavera
Vem já tão próxima! ...(Nunca te apartas
Primavera, dos sonhos e das preces!)
E no perfume preso em tuas cartas
À primavera surges e esvaneces.
Vinicius de Moraes
O teu perfume, amada — em tuas cartas
Renasce, azul... — são tuas mãos sentidas!
Relembro-as brancas, leves, fenecidas
Pendendo ao longo de corolas fartas.
Relembro-as, vou... nas terras percorridas
Torno a aspirá-lo, aqui e ali desperto
Paro; e tão perto sinto-te, tão perto
Como se numa foram duas vidas.
Pranto, tão pouca dor! tanto quisera
Tanto rever-te, tanto!... e a primavera
Vem já tão próxima! ...(Nunca te apartas
Primavera, dos sonhos e das preces!)
E no perfume preso em tuas cartas
À primavera surges e esvaneces.
Evandro, Vinicius de Moraes, também conhecido por suas canções, fez da poesia de amor um gênero máximo.
ResponderExcluirAdoro as poesias de Vinicius De Morais!
Eu não tinha conhecimento da escritora, Katherine Mansfield.
Irei pesquisar sobre ela.
Abraços e um Ótimo final de semana.
Adorei a postagem, Evandro!
ResponderExcluirKatherine Mansfield e Vinícius de Morais: Nossa!
Conheço a autora, gosto demais, mas ainda não li "Bliss".
Amanhã mesmo irei ao sebo... Se não tiver, encaro a livraria.
Grata, querido!
Abraço.
Evandro, seu blog é um parte do paraíso no mundo virtual. Adoro Katherine e é claro que a conheci também por meio de Clarice. Apenas por curiosidade, há uma edição impecável de seus contos, publicada pela editora Cosac Naify. Vale a pena conferir. Um abraço!!!
ResponderExcluirAdoro escritores de épocas distantes da nossa; ver as mudanças de linguagem que ocorreram nesse meio tempo.
ResponderExcluirSe a Clarice Lispector era fã, então essa deveria ser uma escritora sensacional.
Ah tanto para ler, ver, descobrir e redescobrir que é uma vida só é pouco... ainda tenho tanto que fazer, sentir e navegar...
ResponderExcluirAbraço
http://pensamentosifragmentos.blogspot.com
Fala Evandro,
ResponderExcluirRapaz, saiba que se fosse menina (antes de sabermos o resultado), minha neta se chamaria Katherine! Um belíssimo nome. Mas chegará em Maio um menino e vai se chamar Miguel. O Avô aqui está babando.
Mas, enfim, você sempre aparece com essas dicas para "leigos" no mundo da literatura como Eu, e confesso que não conhecia a Katherine. Culpa de quem não é um leitor assíduo, mas enfim, sempre que encontro dicas aqui repasso para minha filha.
Um abraço e bom domingo.
Belo programa... Gosto de conversar, inclusive, com aqueles que trabalham nos sebos e são amantes da literatura... sempre dão ótimas dicas. Lá na Tiradentes meu marido encontrou, inclusive, um livro de Drummond autografado e com linda dedicatória... por si só uma poesia.
ResponderExcluirBeijo. :)
O que o calor não faz com o corpo, não?!
ResponderExcluirEncontrar uma obra de Katherine Mansfield (lida por Clarice Lispector) num sebo da praça Tiradentes (traduzida por Érico Veríssimo) e finalizar o post com o soneto de Vinicius de Moraes... Aiaiai!!
Adorei esse sincronismo!
Beijo!
Vc tocou no meu ponto fraco: Contos! gosto muito deles pois contém histórias concisas, mas profundas em sua essência...
ResponderExcluirNunca ouvi falar dessa escritora, mas irei pesquisar sobre ela e, com certeza, procurar algum livro de sua autoria!
bela dica!
Alguem que faça um poco de interpretação do SONETO A KATHERINE.
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