Primo Levi, 1919-1987, judeu italiano foi um dos poucos sobreviventes de Auschwitz, o campo de concentração onde milhões de prisioneiros, judeus como ele, foram assassinados pelos nazistas. Sobreviveu para regressar a Turim, sua cidade-natal, e escrever um dos mais extraordinários e comoventes testemunhos dos campos de extermínio nazista.
Dedicou o resto da sua vida à procura incessante da resposta para a pergunta essencial de Auschwitz: “O que é um homem?"
Em ‘Isto é um homem?’, Levi descreve sua vida e a de todos os judeus que, após chegarem vivos até Auschwitz e sobreviver à primeira seleção, ficam trabalhando – e morrendo – nos campos de trabalho de Auschwitz-III-Monowitz e Birkenau.
O campo de Auschwitz-III-Monowitz, para onde ele foi despachado, também chamado de Buna-Monovitze ou de Buna, era um gigantesco complexo químico construído pela empresa IG-Farben. Todos os 15 mil prisioneiros do campo trabalhavam em regime de escravidão na instalação de uma fábrica de borracha sintética.
Levi viveu em Buna durante um ano, período em que morreram quatro quintos de seus companheiros, substituídos imediatamente por outros novos prisioneiros também destinados a morrer rapidamente. É de importância primordial para Primo Levi que o leitor entenda o processo usado pelos algozes alemães para “aniquilar um homem, transformá-lo em nada, em um número marcado na carne”.
Fazemos nossas as suas palavras: “Então, pela primeira vez, percebemos que à nossa língua faltam palavras para expressar esta ofensa: a demolição de um homem. Num instante, com intuição quase profética, a realidade nos é revelada. Chegamos ao fundo... Nada mais é nosso: tiraram-nos as roupas, os sapatos, até os cabelos; se falarmos não nos ouvirão e, se nos ouvirem, não entenderão... roubaram também nossos nomes e se quisermos manter-nos teremos que encontrar dentro de nós a força para tanto, para que, além do nome, sobre alguma coisa do que éramos”.
O primeiro alerta sobre como conseguir manter a humanidade dentro do Lager vem de um dos prisioneiros, um ex-sargento do exército austro-húngaro, que avisa Levi: “Campo é uma grande engrenagem para nos transformar em animais. Mas não devemos nos transformar em animais; até num lugar como este pode-se sobreviver para relatar a verdade, dar nosso depoi-mento. Destinados a uma morte quase certa, resta-nos uma única opção, que devemos defender a qualquer custo, justamente porque é a última: a de não permitir que nos façam virar um ‘nada’”.
Levi compara Auschwitz ao inferno retratado por Dante em sua obra “A Divina Comédia”. Em apenas duas linhas consegue descrever a vida nesse inferno: “Todos os dias, segundo o ritmo pré-estabelecido, Ausrücken ed Einrücken, sair e regressar; trabalhar, dormir e comer; adoecer, restabelecer-se ou morrer”.
Relata os detalhes do “cotidiano”: a impiedosa luta pela sobrevivência, as “seleções” feitas pelos nazistas dos prisioneiros destinados à exterminação, a fome insaciável, o trabalho desumano, a violência dos guardas, o frio e a imundície, as doenças físicas e mentais, as humilhações, a apatia que os derrotava... Acima de tudo, a necessidade de se adaptar ao inferno, onde tudo é proibido pela única razão de ser proibido. “A nossa sabedoria era não procurar entender, não premeditar o futuro, não nos atormentarmos acerca de como e de quando tudo acabaria, não fazer perguntas aos outros nem a nós mesmos”.
Primo Levi não se limita a deixar que os fatos falem por si sós. Ele os comenta. Enquanto escreve, tenta ele mesmo compreender a “lógica” por trás da barbárie nazista; e como a vida no Lager ia transformando, ou melhor, “deformando”, física e mentalmente, aqueles que conseguiam sobreviver. Estuda, com passiva aflição, o que resta de humano em quem é submetido à prova terrível de perder tudo que o identifica como tal. Em suas páginas lembra tanto dos que não agüentaram, sucumbindo perante o mal absoluto, como dos que sobreviveram, conseguindo manter sua humanidade.
Em janeiro de 1945, pressionados pelo avanço do exército russo, os alemães abandonam o campo levando consigo, a pé, no inverno polonês, os prisioneiros sadios. A maioria morreu durante a chamada “Marcha da Morte”. Mais uma vez a sorte fica ao lado de Primo Levi que, doente, com escarlatina, é abandonado na enfermaria do Lager com outros 800 prisioneiros doentes, mais de 700 dos quais acabam morrendo. Levi é um dos poucos que sobreviveu ao campo de extermínio do qual não estava previsto que alguém sobrevivesse.
Dedicou o resto da sua vida à procura incessante da resposta para a pergunta essencial de Auschwitz: “O que é um homem?"
Em ‘Isto é um homem?’, Levi descreve sua vida e a de todos os judeus que, após chegarem vivos até Auschwitz e sobreviver à primeira seleção, ficam trabalhando – e morrendo – nos campos de trabalho de Auschwitz-III-Monowitz e Birkenau.
O campo de Auschwitz-III-Monowitz, para onde ele foi despachado, também chamado de Buna-Monovitze ou de Buna, era um gigantesco complexo químico construído pela empresa IG-Farben. Todos os 15 mil prisioneiros do campo trabalhavam em regime de escravidão na instalação de uma fábrica de borracha sintética.
Levi viveu em Buna durante um ano, período em que morreram quatro quintos de seus companheiros, substituídos imediatamente por outros novos prisioneiros também destinados a morrer rapidamente. É de importância primordial para Primo Levi que o leitor entenda o processo usado pelos algozes alemães para “aniquilar um homem, transformá-lo em nada, em um número marcado na carne”.
Fazemos nossas as suas palavras: “Então, pela primeira vez, percebemos que à nossa língua faltam palavras para expressar esta ofensa: a demolição de um homem. Num instante, com intuição quase profética, a realidade nos é revelada. Chegamos ao fundo... Nada mais é nosso: tiraram-nos as roupas, os sapatos, até os cabelos; se falarmos não nos ouvirão e, se nos ouvirem, não entenderão... roubaram também nossos nomes e se quisermos manter-nos teremos que encontrar dentro de nós a força para tanto, para que, além do nome, sobre alguma coisa do que éramos”.
O primeiro alerta sobre como conseguir manter a humanidade dentro do Lager vem de um dos prisioneiros, um ex-sargento do exército austro-húngaro, que avisa Levi: “Campo é uma grande engrenagem para nos transformar em animais. Mas não devemos nos transformar em animais; até num lugar como este pode-se sobreviver para relatar a verdade, dar nosso depoi-mento. Destinados a uma morte quase certa, resta-nos uma única opção, que devemos defender a qualquer custo, justamente porque é a última: a de não permitir que nos façam virar um ‘nada’”.
Levi compara Auschwitz ao inferno retratado por Dante em sua obra “A Divina Comédia”. Em apenas duas linhas consegue descrever a vida nesse inferno: “Todos os dias, segundo o ritmo pré-estabelecido, Ausrücken ed Einrücken, sair e regressar; trabalhar, dormir e comer; adoecer, restabelecer-se ou morrer”.
Relata os detalhes do “cotidiano”: a impiedosa luta pela sobrevivência, as “seleções” feitas pelos nazistas dos prisioneiros destinados à exterminação, a fome insaciável, o trabalho desumano, a violência dos guardas, o frio e a imundície, as doenças físicas e mentais, as humilhações, a apatia que os derrotava... Acima de tudo, a necessidade de se adaptar ao inferno, onde tudo é proibido pela única razão de ser proibido. “A nossa sabedoria era não procurar entender, não premeditar o futuro, não nos atormentarmos acerca de como e de quando tudo acabaria, não fazer perguntas aos outros nem a nós mesmos”.
Primo Levi não se limita a deixar que os fatos falem por si sós. Ele os comenta. Enquanto escreve, tenta ele mesmo compreender a “lógica” por trás da barbárie nazista; e como a vida no Lager ia transformando, ou melhor, “deformando”, física e mentalmente, aqueles que conseguiam sobreviver. Estuda, com passiva aflição, o que resta de humano em quem é submetido à prova terrível de perder tudo que o identifica como tal. Em suas páginas lembra tanto dos que não agüentaram, sucumbindo perante o mal absoluto, como dos que sobreviveram, conseguindo manter sua humanidade.
Em janeiro de 1945, pressionados pelo avanço do exército russo, os alemães abandonam o campo levando consigo, a pé, no inverno polonês, os prisioneiros sadios. A maioria morreu durante a chamada “Marcha da Morte”. Mais uma vez a sorte fica ao lado de Primo Levi que, doente, com escarlatina, é abandonado na enfermaria do Lager com outros 800 prisioneiros doentes, mais de 700 dos quais acabam morrendo. Levi é um dos poucos que sobreviveu ao campo de extermínio do qual não estava previsto que alguém sobrevivesse.
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