domingo, 27 de fevereiro de 2011

Oscar 2011


 Torcida de hoje:

Melhor filme: A Origem ou Cisne Negro

Melhor roteiro original: A Origem

Melhor diretor: Darren Aronofsky por Cisne Negro

Melhor ator: Javier Bardem por Biutiful

Melhor atriz: Natalie Portman por Cisne Negro

Melhor ator coadjuvante: Christian Bale por O Vencedor

Melhor atriz coadjuvante: Melissa Leo por O Vencedor 

Melhor filme de língua estrangeira: Biutiful (México)
 
Melhor animação: Toy Story 3
 

Só Garotos, Patti Smith


“Tem gente que nasce rebelde. Lendo a história de Zelda Fitzgerald, identifiquei-me com seu espírito insubordinado. Lembro de passear com minha mãe olhando vitrines e perguntar por que as pessoas não chutavam e quebravam aquilo.” É com esse tom franco e irreverente - e ao mesmo tempo doce e poético - que Patti Smith revive sua história ao lado do fotógrafo Robert Mapplethorpe, enquanto os dois tentavam ser artistas e transformar seus impulsos destrutivos em trabalhos criativos.
Crescida numa família modesta de Nova Jersey, Patti trabalhou em uma fábrica e entregou seu primeiro filho para adoção, antes de se mandar para Nova York, com vinte anos, um livro de Rimbaud na mala e nada no bolso.O sonho de muita gente, afinal, era o final dos anos 1960, e Patti teve de se virar como pôde: morou nas ruas de Manhattan, dividiu comida com um mendigo, trabalhou e dormiu em livrarias e até roubou os colegas de trabalho, enquanto conhecia boa parte dos aspirantes a artistas que partilhavam a atmosfera contestadora do famoso “verão do amor”. Foi então que conheceu o rapaz de cachos bastos que seria sua primeira grande paixão: o futuro fotógrafo Robert Mapplethorpe, para quem Patti prometeu escrever este livro, antes que ele morresse de aids, em 1989.
Só garotos é uma autobiografia cativante e nada convencional. Tendo como pano de fundo a história de amor entre Patti e Mapplethorpe, o livro é também um retrato apaixonado, lírico e confessional da contracultura americana dos anos 1970, desfiado por uma de suas maiores expoentes vivas.
Muitas vezes sem dinheiro e sem emprego, mas com disposição e talento de sobra, os dois viveram intensamente períodos de grandes transformações e revelações - até mesmo quando Robert assume ser gay ou quando suas imagens ousadas e polêmicas começam a ser reconhecidas e aclamadas pelo mundo da arte. Ao refazer os laços sinceros de uma relação muito peculiar, Patti Smith revela-se uma escritora e memorialista de grande calibre - e o modo como seu texto reflete a lealdade dos dois é comovente, apesar de todas as diferenças.
Pincelado com imagens raras do acervo de Patti Smith, Só garotos pode ser lido como um romance de formação de dois grandes artistas do século XX, que apostaram na ousadia, na liberdade e na beleza como antídotos à massificação - e contra todas as recomendações.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

A Vitória nossa de cada dia?


“Não temos amado, acima de todas as coisas.
Não temos aceito o que não se entende porque não queremos passar por tolos. Temos amontoado coisas e seguranças por não nos termos um ao outro. Não temos nenhuma alegria que já não tenha sido catalogada. Temos construído catedrais, e ficado do lado de fora pois as catedrais que nós mesmos construímos, tememos que sejam armadilhas.

Não nos temos entregue a nós mesmos, pois isso seria o começo de uma vida larga e nós a tememos. Temos evitado cair de joelhos diante do primeiro de nós que por amor diga: tens medo. Temos organizado associações e clubes sorridentes onde se serve com ou sem soda. Temos procurado nos salvar mas sem usar a palavra salvação para não nos envergonharmos de ser inocentes. Não temos usado a palavra amor para não termos de reconhecer sua contextura de ódio, de amor, de ciúme e de tantos outros contraditórios. Temos mantido em segredo a nossa morte para tornar nossa vida possível. Muitos de nós fazem arte por não saber como é a outra coisa. Temos disfarçado com falso amor a nossa indiferença, sabendo que nossa indiferença é angústia disfarçada. Temos disfarçado com o pequeno medo o grande medo maior e por isso nunca falamos no que realmente importa. Falar no que realmente importa é considerado uma gafe.

Não temos adorado por termos a sensata mesquinhez de nos lembrarmos a tempo dos falsos deuses. Não temos sido puros e ingênuos para não rirmos de nós mesmos e para que no fim do dia possamos dizer “pelo menos não fui tolo” e assim não ficarmos perplexos antes de apagar a luz. Temos sorrido em público do que não sorriríamos quando ficássemos sozinhos. Temos chamado de fraqueza a nossa candura. Temo-nos temido um ao outro, acima de tudo. E a tudo isso consideramos a vitória nossa de cada dia."

Clarice Lispector

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Rossini para Crianças



Se alguém pensa que a música erudita não pode ser divertida é porque ainda não ouviu o "Duo dos Gatos" de Gioachino Rossini (1792-1868). Meaw... rsrsrs

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

...Que deus te guie porque eu não posso guiá...



Em 1992 vi um show de Caetano pela primeira vez e foi uma das melhores experiências musicais que tive na vida. Depois vi muitos shows de Caetano, mas essa primeira vez com ele foi inesquecível. Hoje, 20 anos depois, encontrei o ingresso do show (eu guardos coisas,rs).
Uma das músicas que mais me marcou foi exatamente Circuladô de Fulô, poema do concretista Haroldo de Campos, musicado por Caetano.

"Circuladô de fulô ao deus ao demodará que deus te guie
Porque eu não posso guiá e viva quem já me deu circuladô
De fulô e ainda quem falta me dá soando como um shamisen
E feito apenas com um arame tenso um cabo e uma lata
Velha num fim de festafeira no pino do sol a pino mas para
Outros não existia aquela música não podia porque não
Podia popular aquela música se não canta não é popular
Se não afina não tintina não tarantina e no entanto puxada
Na tripa da miséria na tripa tensa da mais megera miséria
Física e doendo doendo como um prego na palma da mão
Um ferrugem prego cego na palma espalma da mão
Coração exposto como um nervo tenso retenso um renegro
Prego cego durando na palma polpa da mão ao sol

Circuladô de fulô ao deus ao demodará que deus te guie
Porque eu não posso guiá e viva quem já me deu circuladô
De fulô e ainda quem falta me dá

O povo é o inventalínguas na malícia da maestria no matreiro
Da maravilha no visgo do improviso tenteando a travessia
Azeitava o eixo do sol

Circuladô de fulô ao deus ao demodará que deus te guie
Porque eu não posso guiá e viva quem já me deu circuladô
De fulô e ainda quem falta me dá

E não peça que eu te guie não peça despeça que eu te guie
Desguie que eu te peça promessa que eu te fie me deixe me
Esqueça me largue me desamargue que no fim eu acerto
Que no fim eu reverto que no fim eu conserto e para o fim
Me reservo e se verá que estou certo e se verá que tem jeito
E se verá que está feito que pelo torto fiz direito que quem
Faz cesto faz cento se não guio não lamento pois o mestre
Que me ensinou já não dá ensinamento

Circuladô de fulô ao deus ao demodará que deus te guie
Porque eu não posso guiá eviva quem já me deu circuladô
De fulô e ainda quem falta me dá."


Resultado da promoção: Simone em Boa Companhia


Sorteio CD Duplo - Simone em Boa Companhia
Em parceria com a gravadora Biscoito Fino, o Sabor da Letra faz mais um sorteio:
CD Dlupo da cantora Simone.
Basta comentar essa postagem mencionando três cantores da gravadora Biscoito Fino.
Sorteio dia 20/02/11.

A querida Nicelle Almeida foi a ganhadora. Parabéns! 
Obrigado a todos que participaram e aguardem nova promoção. 

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Nana Caymmi



Essa semana foi de muito trabalho, termino muito cansado, mas com a certeza de dever cumprido.
Nada melhor do que acalmar a alma com essa voz que acaricia nossos ouvidos. A voz de Nana.
Apaixonada, totalmente devotada ao ofício de cantar, Nana com seus graves e agudos atinge nossa alma e a refaz em doce serenidade.
Então posso garantir que "Sem Poupar Coração", o mais recente album de Nana faz juz ao nome, são 14 belas canções com arranjos e interpretações impecáveis.


Mas se você deseja conhecer mais a obra da filha de Dorival, que carrega na voz o timbre e a força do mar de Caymmi, acesse o blog downloadcult e baixe toda a discografia de Nana.

Escolhi o vídeo da apresentação de Nana no especial Elas cantam Roberto Carlos, na minha opnião o momento mais emocionante do show.






domingo, 13 de fevereiro de 2011

Âmbar

Dedico essa música à você que há um ano reacendeu minha vida!

"Tá tudo aceso em mim
Tá tudo assim tão claro
Tá tudo brilhando em mim
Tudo ligado
Como se eu fosse um morro iluminado
Por um âmbar elétrico
Que vazasse dos prédios
E banhasse a Lagoa até São Conrado
E ganhasse as Canoas
Aqui do outro lado
Tudo plugado
Tudo me ardendo
Tá tudo assim queimando em mim
Como salva de fogos
Desde que sim eu vim
Morar nos seus olhos"
 
                                                                              Adriana Calcanhoto

sábado, 12 de fevereiro de 2011

MINEIRINHO - Clarice Lispector



Cartaz do filme de Aurélio Teixeira, em 1967
Mineirinho, que inspirou o conto de Clarice Lispector, foi mais um desses chamados "bandidos", transformados pela imprensa marrom no inimigo público número um. Para os moradores do morro, Mineirinho era uma versão carioca de Robin Hood. Sua morte com 13 tiros foi noticiada com estardalhaço.
Leiam trecho no Correio da Manhã, em 1º de maio de 1962:
"José Rosa de Miranda, o Mineirinho, foi encontrado morto, ontem na Estrada Grajaú-Jacarepaguá, no Rio, com 13 tiros de metralhadora em várias partes do corpo - três deles nas costas e quatro no pescoço - uma medalha de ouro de S. Jorge no peito e Cr$ 3.112 nos bolsos, e sem os seus sapatos marca Sete Vidas, atirados a um canto."


Ë, suponho que é em mim, como um dos representantes do nós, que devo procurar por que está doendo a morte de um facínora. E por que é que mais me adianta contar os treze tiros que mataram Mineirinho do que os seus crimes.
Perguntei a minha cozinheira o que pensava sobre o assunto. Vi no seu rosto a pequena convulsão de um conflito, o mal-estar de não entender o que se sente, o de precisar trair sensações contraditórias por não saber como harmonizá-las. Fatos irredutíveis, mas revolta irredutível também, a violenta compaixão da revolta. Sentir-se dividido na própria perplexidade diante de não poder esquecer que Mineirinho era perigoso e já matara demais; e no entanto nós o queríamos vivo. A cozinheira se fechou um pouco, vendo-me talvez como a justiça que se vinga. Com alguma raiva de mim, que estava mexendo na sua alma, respondeu fria: "O que eu sinto não serve para se dizer. Quem não sabe que Mineirinho era criminoso? Mas tenho certeza de que ele se salvou e já entrou no céu".
Respondi-lhe que "mais do que muita gente que não matou".
(...)
Essa justiça que vela meu sono, eu a repudio, humilhada por precisar dela. Enquanto isso durmo e falsamente me salvo. Nós, os sonsos essenciais.
Para que minha casa funcione, exijo de mim como primeiro dever que eu seja sonsa, que eu não exerça a minha revolta e o meu amor, guardados. Se eu não for sonsa, minha casa estremece. Eu devo ter esquecido que embaixo da casa está o terreno, o chão onde nova casa poderia ser erguida. Enquanto isso dormimos e falsamente nos salvamos.
Eu não quero esta casa. Quero uma justiça que tivesse dado chance a uma coisa pura e cheia de desamparo em Mineirinho — essa coisa que move montanhas e é a mesma que o fez gostar "feito doido" de uma mulher, e a mesma que o levou a passar por porta tão estreita que dilacera a nudez; é uma coisa que em nós é tão intensa e límpida como uma grama perigosa de radium, essa coisa é um grão de vida que se for pisado se transforma em algo ameaçador — em amor pisado; essa coisa, que em Mineirinho se tornou punhal, é a mesma que em mim faz com que eu dê água a outro homem, não porque eu tenha água, mas porque, também eu, sei o que é sede; e também eu, que não me perdi, experimentei a perdição.
A justiça prévia, essa não me envergonharia. Já era tempo de, com ironia ou não, sermos mais divinos; se adivinhamos o que seria a bondade de Deus é porque adivinhamos em nós a bondade, aquela que vê o homem antes de ele ser um doente do crime.
Continuo, porém, esperando que Deus seja o pai, quando sei que um homem pode ser o pai de outro homem. E continuo a morar na casa fraca. Essa casa, cuja porta protetora eu tranco tão bem, essa casa não resistirá à primeira ventania que fará voar pelos ares uma porta trancada. Mas ela está de pé, e Mineirinho viveu por mim a raiva, enquanto eu tive calma.
Foi fuzilado na sua força desorientada, enquanto um deus fabricado no último instante abençoa às pressas a minha maldade organizada e a minha justiça estupidificada: o que sustenta as paredes de minha casa é a certeza de que sempre me justificarei, meus amigos não me justificarão, mas meus inimigos que são os meus cúmplices, esses me cumprimentarão; o que me sustenta é saber que sempre fabricarei um deus à imagem do que eu precisar para dormir tranqüila e que outros furtivamente fingirão que estamos todos certos e que nada há a fazer.
Tudo isso, sim, pois somos os sonsos essenciais, baluartes de alguma coisa. E sobretudo procurar não entender.
(...)
Até que viesse uma justiça um pouco mais doida. Uma que levasse em conta que todos temos que falar por um homem que se desesperou porque neste a fala humana já falhou, ele já é tão mudo que só o bruto grito desarticulado serve de sinalização.
Uma justiça prévia que se lembrasse de que nossa grande luta é a do medo, e que um homem que mata muito é porque teve muito medo.
Sobretudo uma justiça que se olhasse a si própria, e que visse que nós todos, lama viva, somos escuros, e por isso nem mesmo a maldade de um homem pode ser entregue à maldade de outro homem: para que este não possa cometer livre e aprovadamente um crime de fuzilamento.
Uma justiça que não se esqueça de que nós todos somos perigosos, e que na hora em que o justiceiro mata, ele não está mais nos protegendo nem querendo eliminar um criminoso, ele está cometendo o seu crime particular, um longamente guardado.
Na hora de matar um criminoso - nesse instante está sendo morto um inocente. Não, não é que eu queira o sublime, nem as coisas que foram se tornando as palavras que me fazem dormir tranqüila, mistura de perdão, de caridade vaga, nós que nos refugiamos no abstrato.
O que eu quero é muito mais áspero e mais difícil: quero o terreno

Sorteio CD Duplo - Simone em Boa Companhia

Em parceria com a gravadora Biscoito Fino, o Sabor da Letra faz mais um sorteio:
CD Dlupo da cantora Simone. 
Basta comentar essa postagem mencionando três cantores da gravadora Biscoito Fino.
Sorteio dia 20/02/11. 


Simone lança pela Biscoito Fino CD Duplo ‘em Boa Companhia’, registro da turnê homônima feito nos dias 10 e 11 de abril, no Teatro dos Guararapes, em Recife.

Dirigido por José Possi Neto, em Boa Companhia é, antes de mais nada, um show de Simone. Não é qualquer intérprete que pode se orgulhar de possuir uma assinatura tão marcante, independente do que ele cante. Simone pode. E depois de quase quatro décadas de uma bem-sucedida carreira, isso se evidencia como nunca antes. O que torna possível num trabalho como esse, que contempla compositores de universos tão distintos, uma unidade da primeira à ultima músicas:

- Eu sempre falei e cantei o amor. Para o disco Na Veia, que deu origem a esta minha turnê, liguei para todos os compositores que me enviaram canções, ou até mesmo os encontrei, e disse: é um trabalho feliz, para cima, que fala do amor de todos os seus jeitos, formas e maneiras – Simone dá a pista.

O amor, um dos assuntos mais recorrentes na discografia da intérprete, também predomina neste CD, mas sob um enfoque mais amplo: não coincidentemente, a mulher, o sujeito principal das canções aqui, expõe livremente seus desejos, seduz, põe fim à relação e também anseia por liberdade. Tanto as composições quanto a interpretação precisa e sutil conferem uma abordagem contemporânea e atual ao tema mais recorrente no cancioneiro do Brasil, como explica José Possi Neto:

Em Boa Companhia é pra cima, o show da paixão e do desejo. Ilustra bem o prazer de Simone em se relacionar com o público, afinal, ela é uma artista talhada para o palco e hoje está amadurecida, tem domínio total do seu ofício. E em termos de sonoridade, é o trabalho mais contemporâneo dela nos últimos 20 anos.

Em Boa Companhia atesta, após 37 anos de carreira, o gosto que a ‘cigarra’ tem de cantar, e o quanto este prazer permeia cada poro deste show, tornando-o, acima de tudo, um espetáculo de Simone.

Texto: Assessoria de Imprensa Biscoito Fino.

Apoio:  http://www.biscoitofino.com.br

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Variações sobre o Prazer


 
Pedagogo, poeta, cronista, contador de histórias, ensaísta, teólogo, acadêmico, autor de livros e psicanalista, Rubem Alves é dono de uma narrativa marcada por reflexões e detalhes. Neste momento, o escritor lança a segunda edição do livro “Variações sobre o Prazer”, onde cita poetas, compositores clássicos, pintores, filósofos e outros e proporciona momentos de liberdade e contentamento em seu melhor estilo.

Como não se deixar envolver pela narrativa de Alves, pontuada por detalhes e reflexões? Autor de mais de 80 livros, “Variações sobre o Prazer” trata-se de uma segunda edição – a primeira recebeu o título Livro Sem Fim, pelas edições Loyola, em 2002. Logo no prefácio, Rubem provoca e convida o leitor a considerar uma questão intrigante: e se tivéssemos apenas mais um ano de vida?

“Faz alguns anos que um grupo de amigos se reúne comigo para ler poesia”(…) “Pois aconteceu que, numa dessas reuniões, quando líamos trechos da ‘Agenda 2001 – Carpe Diem’, encontramos, no dia 2 de fevereiro, essa afirmação de Gandhi: ‘eu nunca acreditei que a sobrevivência fosse um valor último. A vida, para ser bela, deve estar cercada de vontade, de bondade e de liberdade. Essas são coisas pelas quais vale a pena morrer’. Essas palavras provocaram um silêncio meditativo, até que um dos membros do grupo, que se chama ‘Canoeiros’, sugeriu que fizéssemos um exercício espiritual. Um joguinho de ‘faz de conta’. Vamos fazer de conta que sabemos que temos apenas um ano a mais de vida. Como é que viveremos sabendo que o tempo é curto ‘tempus fugit’?”

Rubem propõe, então, o libertar-se de uma infinidade de “coisas tolas e mesquinhas”: uma forma de descobrir o essencial, entregar-se inteiramente ao deleite da vida. Assim, o autor traça olhares sobre a simplicidade, a beleza, o prazer.

“O fato é que, sem que o saibamos, todos nós estamos enfermos de morte e é preciso viver a vida com sabedoria para que ela, a vida, não seja estragada pela loucura que nos cerca”.

Ao longo do livro, Rubem aborda quatro variações: teologia, filosofia, economia e culinária. O leitor mergulha em reflexões inspiradas em personagens reais e fictícios que viveram desfrutando o que acreditavam: de Santo Agostinho ao revolucionário Marx. Do filósofo Nietzsche à cozinheira Babette.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Deus é Naja - Caio Fernando Abreu






Estás desempregado? Teu amor sumiu? Calma: sempre pode pintar uma jamanta na esquina.

Tenho um amigo, cujo nome, por muitas razões, não posso dizer, conhecido como o mais dark. Dark no visual, dark nas emoções, dark nas palavras: darkésimo. Não nos conhecemos a muito tempo, mas imagino que, quando ainda não havia darks, ele já era dark. Do alto de sua darkice futurista, devia olhar com soberano desprezo para aquela extensa legião de paz e amor, trocando flores, vestida de branco e cheia de esperança.Pode parecer ilógico, mas o mais dark dos meus amigos é também uma das pessoas mais engraçadas que conheço. Rio sem parar do humor dele- humor dark, claro. Outro dia esperávamos um elevador, exaustos no fim da tarde, quando de repente ele revirou os olhos, encostou a cabeça na parede, suspirou bem fundo e soltou essa: -"Ai, meu Deus, minha única esperança é que uma jamanta passe por cima de mim..." Descemos o elevador rindo feito hienas. Devíamos ter ido embora, mas foi num daqueles dias gelados, propícios aos conhaques e às abobrinhas.

Tomamos um conhaque no bar. E imaginamos uma história assim: você anda só, cheio de tristeza, desamado, duro, sem fé nem futuro. Aí você liga para o Jamanta Express e pede: -"Por favor, preciso de uma jamanta às 30h15, na esquina da rua tal com tal. O cheque estará no bolso esquerdo da calça". Às 20h14, na tal esquina (uma ótima esquina é a Franca com Haddock Lobo, que tem aquela descidona) , você olha para esquina de cima. E lá está- maravilha!- parada uma enorme jamanta reluzente, soltando fogo pelas ventas que nem um dragão de história infantil. O motorista espia pela janela, olha para você e levanta o polegar. Você levanta o polegar: tudo bem. E começa a atravessar a rua. A jamanta arranca a mil, pneus guinchando no asfalto. Pronto: acabou. Um fio de sangue escorrendo pelo queixo, a vítima geme suas últimas palavras: -"Morro feliz. Era tudo que eu queria..."

Dia seguinte, meu amigo dark contou: - "Tive um sonho lindo. Imagina só, uma jamanta toda dourada..." Rimos até ficar com dor na barriga. E eu lembrei dum poema antigo de Drummond. Aquele Consolo na Praia, sabe qual? "Vamos não chores / A infância está perdida/ A mocidade está perdida/ Mas a vida não se perdeu" – ele começa, antes de enumerar as perdas irreparáveis: perdeste o amigo, perdeste o amor, não tens nada além da mágoa e solidão. E quando o desejo da jamanta ameaça invadir o poema – Drummond, o Carlos, pergunta: "Mas, e o humour?" Porque esse talvez seja o único remédio quando ameaça doer demais: invente uma boa abobrinha e ria, feito louco, feito idiota, ria até que o que parece trágico perca o sentido e fique tão ridículo que só sobra mesmo a vontade de dar uma boa gargalhada. Dark, qual o problema?

Deus é naja - descobrimos outro dia.

O mais dark dos meus amigos tem esse poder, esse condão. E isso que ele anda numa fase problemática. Problemas darks, evidentemente. Naja ou não, Deus (ou Diabo?) guarde sua capacidade de rir descontroladamente de tudo. Eu, às vezes, só às vezes, também consigo. Ultimamente, quase não. Porque também me acontece – como pode estar acontecendo a você que quem sabe me lê agora - de achar que tudo isso talvez não tenha a menor graça. Pode ser: Deus é naja, nunca esqueça, baby.Segure seu humor. Seguro o meu, mesmo dark: vou dormir profundamente e sonhar com uma jamanta. A mil por hora.

Caio Fernando Abreu

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Balada de Gisberta

Gisberta
 É com esta canção que Maria Bethânia fecha o primeiro ato de seu show Amor Festa Devoção (guardado em disco de mesmo nome, 2010). Transfigurada em Gisberta (a sem nome, sem sexo: só paixão e queda) a cantora imprime o tom mais que perfeito para marcar a saída de cena: quando perigo e encanto; alerta e convite nos envolvem.
Mas quem é essa Gisberta, fui pesquisar:
Gilberto Salce Júnior, ou melhor, a transsexual brasileira Gilberta foi assassinada na cidade do Porto, em Portugal, em fevereiro de 2006. Antes, durante dois dias, sofreu todo tipo de violência verbal e física, mantida sob cárcere, por um grupo de adolescentes (entre 12 e 16 anos de idade).
A "Balada de Gisberta", de Pedro Abrunhosa, restitui à personagem sua condição humana, destroçada; leva-nos, com tais informações extras, a pensar sobre as políticas públicas de segurança e respeito mútuo e o preconceito com os diferentes.
"Perdi-me do nome, hoje podes chamar-me de tua", diz a Gisberta que fala na canção. Ela é uma legião: carrega na voz a multidão de marginalizados, que servem apenas para dançar em palácios, oferecer-se a mil homens, e logo depois ser descartados.
Urge responder à altura: dialogar e dizer a Gisberta que, acima dos fundamentalismos, ainda vale a pena e é possível sonhar e realizar dias melhores, sem juízos finais. Agora. Pois o céu da felicidade, de cada um e de todos, não pode esperar.



Balada de Gisberta
(Pedro Abrunhosa)

"Perdi-me do nome,
Hoje podes chamar-me de tua,
Dancei em palácios,
Hoje danço na rua.
Vesti-me de sonhos,
Hoje visto as bermas da estrada,
De que serve voltar
Quando se volta p’ró nada.

Eu não sei se um anjo me chama,
Eu não sei dos mil homens na cama
E o céu não pode esperar.
Eu não sei se a noite me leva,
Eu não ouço o meu grito na treva,
E o fim vem-me buscar.

Sambei na avenida,
No escuro fui porta-estandarte,
Apagaram-se as luzes,
É o futuro que parte.
Escrevi o desejo,
Corações que já esqueci,
Com sedas matei
E com ferros morri.

Trouxe pouco,
Levo menos,
E a distância até ao fundo é tão pequena,
No fundo, é tão pequena,
A queda.
E o amor é tão longe,
O amor é tão longe
E a dor é tão perto."


sábado, 5 de fevereiro de 2011

Os Livros




“A única forma de suportar a existência é mergulhar na literatura como numa orgia perpétua” (Gustave Flaubert)


Livros 

"Tropeçavas nos astros desastrada
Quase não tínhamos livros em casa
E a cidade não tinha livraria
Mas os livros que em nossa vida entraram
São como a radiação de um corpo negro
Apontando pra a expansão do Universo
Porque a frase, o conceito, o enredo, o verso
(E, sem dúvida, sobretudo o verso)
É o que pode lançar mundos no mundo.


Tropeçavas nos astros desastrada
Sem saber que a ventura e a desventura
Dessa estrada que vai do nada ao nada
São livros e o luar contra a cultura.


Os livros são objetos transcendentes
Mas podemos amá-los do amor táctil
Que votamos aos maços de cigarro
Domá-los, cultivá-los em aquários,
Em estantes, gaiolas, em fogueiras
Ou lançá-los pra fora das janelas
(Talvez isso nos livre de lançarmo-nos)
Ou o que é muito pior por odiarmo-los
Podemos simplesmente escrever um:


Encher de vãs palavras muitas páginas
E de mais confusão as prateleiras.
Tropeçavas nos astros desastrada
 Mas pra mim foste a estrela entre as estrelas."

Caetano Veloso 

 


quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

R & J de Shakespeare - Juventude Interrompida


        Dirigidos por João Fonseca, quatro atores encenam a clássica história de Romeu e Julieta

Talvez a história de amor mais conhecida de todos os tempos, ‘Romeu e Julieta’ perdura há quatro séculos como inesgotável objeto de fascínio, estudo e admiração. Em meio a uma infinidade de teses, montagens, filmes e adaptações do original de Shakespeare (1564-1616), a ousadia de um espetáculo chamou a atenção no disputado circuito londrino e também no Off-Broadway. Ao reencenar o clássico através de quatro alunos de um colégio interno na Inglaterra, o autor Joe Calarco fez de ‘Shakespeare’s R & J’ (no original) o grande destaque teatral de 1997, quando arrebatou a crítica e ganhou os mais importantes prêmios locais. Depois de uma bem-sucedida estreia, ‘R & J de Shakespeare - Juventude Interrompida’ - a versão brasileira do texto – fará uma nova temporada, a partir de 09 de fevereiro, no Teatro Gláucio Gill. Dirigidos por João Fonseca, João Gabriel Vasconcellos, Felipe Lima, Pablo Sanábio e Rodrigo Pandolfo formam o quarteto que se reveza entre todos os personagens da tragédia.

O ponto de partida é inusitado: em uma escola católica extremamente conservadora, quatro estudantes exploram ‘Romeu e Julieta’ como uma fuga da repressão em que vivem, e através disso exploram suas próprias sexualidades. Eles começam a ler – e depois a ‘viver’ propriamente – todos os diálogos e emoções do clássico. Sem trocas de roupas ou de cenário, a tragédia se desenrola basicamente através das atuações e do jogo cênico proposto por Calarco, com a ‘peça dentro da peça’.



‘Sempre quis fazer Shakespeare de uma maneira simples, mais essencial, de forma a valorizar ainda mais o que é dito’, explica João Fonseca, que encerra a sua ‘trilogia de tragédias’ com a montagem. ‘R & J de Shakespeare - Juventude Interrompida’ é a terceira parte de um projeto que inclui ‘Édipo Unplugged’ (2004) e ‘A Falecida’ (2008). Os três espetáculos são marcados pelo despojamento na releitura de uma tragédia, no caso uma tragédia grega, uma tragédia carioca e uma de Shakespeare, feitas apenas com pouquíssimos elementos cênicos, como cadeiras, um quadro-negro e giz.
O diretor vai ainda prestar homenagem a conhecidas versões da história original. Algumas cenas serão pontuadas com músicas e outras menções a ‘West Side Story’, aos filmes de Franco Zeffirelli e de Baz Luhrmann e à incensada montagem do Grupo Galpão e do diretor Antunes Filho.

Geraldinho Carneiro assina a versão brasileira do texto, composto em sua essência pelos versos originais de Shakespeare. O poeta tem no currículo elogiadas traduções de ‘A Tempestade’, ‘As You Like It’, ‘Antonio e Cleópatra’ e uma série de sonetos shakespearianos, que receberam, inclusive, o aval de Millôr Fernandes, decano da tradução brasileira. ‘É um privilégio ter um poeta como o Geraldinho no projeto. Ele está muito integrado, vem nos acompanhando, já foi aos ensaios, é uma honra’, conta João.

R & J de Shakespeare - Juventude Interrompida’ é a terceira incursão do diretor pelo bardo inglês. Em 2000, ele montou com sua companhia, Os Fodidos Privilegiados, duas peças do autor até então inéditas por aqui: ‘Tímon de Atenas’ e ‘Troilo e Créssida’, em sua primeira direção sem a parceria com Antonio Abujamra, fundador do grupo. Foi mais ou menos nesta época em que ele tomou conhecimento do texto de Joe Calarco, assunto que retomou em uma conversa recente com Pablo Sanábio. Ao lado de Felipe Lima, Pablo – que, além dos trabalhos como ator, tem larga experiência no campo de produção – adquiriu os direitos do texto e vem há dois anos batalhando pelo patrocínio.




 Logo em seguida, Rodrigo Pandolfo se juntou à dupla no projeto. Apontado como uma das mais principais revelações do teatro carioca recente, Pandolfo já acumula duas indicações ao Prêmio Shell de Teatro na categoria ator, pelos espetáculos ‘Cine-Teatro Limite’ e ‘O Despertar da Primavera’. Este último rendeu ainda o troféu de Melhor Ator Coadjuvante da Associação de Produtores Teatrais do Rio de Janeiro (APTR). Para completar o elenco, o grupo convidou João Gabriel Vasconcellos, que estreou no teatro com ‘Formas Breves’, de Bia Lessa, logo após protagonizar o polêmico longa ‘Do Começo ao Fim’, de Aluizio Abranches.


Crítica de Bárbara Heliodoro:

"Brincando com Shakespeare
Aproveitando a tradição inglesa (e um pouco também americana) de se montar bom teatro no colégio, Joe Calarco fez uma brilhante adaptação de “Romeu e Julieta” para quatro jovens atores, que foi fluentemente traduzida por Geraldo Carneiro. É difícil saber se, como Shakespeare na “Megera domada”, o autor esqueceu de criar um final que concluísse o início passado na escola, ou se a precipitação no aplauso impede os atores de completar o espetáculo. Mas Calarco corta muito bem o texto, deixando o básico para ser contada a história dos amantes de Verona, e tornando o texto mais acessível a atores jovens, e a única ressalva é fazer, como muitos outros, a cena do balcão em um só plano. O texto é tratado com carinho pelo tradutor, e os quatro atores apresentam quatro colegiais que sabem do que estão falando. Se eles brincam um pouco com Shakespeare, este haveria de gostar de os ver tendo intimidade com sua peça.

Encenação despojada e concisa

A encenação, em cartaz até o fim da semana na Arena do Espaço Sesc, em Copacabana, é despojada e concisa. O cenário de Nello Marrese, um círculo de madeira com áreas projetadas em quatro pontos, mesas e cadeiras escolares, é atraente e adequado, e ótimos são os figurinos de Ruy Cortez, ao mesmo tempo uniforme e material para marcar os diferentes personagens. A trilha de André Aquino e João Bittencourt é muito boa, e o movimento de Rafaela Amado leva em conta tanto a história quanto a juventude dos intérpretes. A direção de João Fonseca é firme e imaginativa, pois acerta muito bem o duplo alvo de servir à peça original em si e à condição de improviso de jovens apresentado na peça de Calarco.
O nível de interpretação do quarteto de atores é bom como conjunto e como trabalho individual: Felipe Lima é o que atua menos, mas se sai bem no que faz. João Gabriel Vasconcellos (Romeu) e Rodrigo Pandolfo (Julieta) estão muito bem tanto nos protagonistas da tragédia como nos outros pequenos papeis que desempenham, e Pablo Sanábio mostra excepcional firmeza de ator tanto como Frei Loureço quanto como a Ama de Julieta, afora outras pequenas intervenções; juntos, formam um elenco de categoria acima do que costuma ser a média em nossos palcos.

“R & J de Shakespeare — Juventude interrompida” é um espetáculo mais do que gratificante, principalmente porque mostra que o riso crítico pode estar presente e chegar ao público com efeito bem mais agradável do que a usual queda para a chanchada; diretor e jovem elenco sabem o que estão fazendo, e o fazem muito bem."


Temporada de 9 de fevereiro a 2 de março
Teatro Gláucio Gill
Praça Cardeal Arcoverde, s/n° - Copacabana.
Tel: 2547-7003.
Terças e quartas, às 21h.
Ingressos a R$ 20 (inteira) e R$ 10,00 (meia)
Classificação indicativa: 16 anos
Duração: 105 minutos

Fonte:Assessoria de Imprensa - Uns Comunicação 

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Resultado do Sorteio de Livro- O Cavaleiro Inexistente, de Ítalo Calvino.


É com muito prazer que informo que o ganhador do livro foi o blogueiro Alan Farias, de Ribeirópolis, Sergipe, dono do blog :
http://jogandonaparede.blogspot.com/.

Peço ao Alan que me envie pelo e-mail (evsilva2010@gmail.com ) seu endereço completo, pois a editora cia das letras enviará o exemplar desse ótimo livro para sua residência.

Agradeço a todos pela participação e convido a participarem da nova promoção, dessa vez com apoio da Biscoito Fino.



terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Sorteio de Livro no Blog - O Cavaleiro Inexistente, de Ítalo Calvino.




Leia a resenha, você pode ganhar esse livro, aqui no blog, basta ser seguidor e enviar um comentário, dizendo de qual postagem do sabor da letra você mais gostou até hoje , e envie junto sua cidade e e-mail de contato. 
O sorteio será dia 02 de fevereiro. 

Quem divulgar essa promoção em seu blog terá chance em dobro. 
Para ver outras postagens basta clicar no título do blog , no cabeçalho.




Hoje, entrarei em mais detalhes e procurarei mostrar a razão pela qual considero O Cavaleiro Inexistente um "livro de cabeceira".

A história já começa com algo completamente fora do normal. Quando uma série de cavaleiros começa a se apresentar, eis que um difere de todos os outros: Agilulfo, o cavaleiro inexistente. É um diálogo cômico, logo de início, em que passamos a conhecer um cavaleiro que não passa de sua armadura: uma armadura sem corpo. É desta situação surreal que parte a história de Ítalo Calvino.

Interessante que, com o decorrer da obra, o autor nos mostra Agilulfo como oposto aos cavaleiros de sua época. Ele era honrado, limpo, organizado e incorporava todos os atributos de um homem de cavalaria ideal; o herói das fábulas. Nisso, já se faz uma crítica a uma certa sociedade de aparência, a uma mistificação que envolvia o ideal dos cavaleiros, algo que, por uma série de analogias e metáforas, também poderia ser levado à época em que Calvino escreveu o livro, crítica esta ainda muito atual.

A obra, porém, ainda traz muitas outras reflexões. Agilulfo não passa de um invólucro movido pela vontade de ser um cavaleiro, pela crença naquilo que ele é: isso o torna real. Como muitos homens daquela época - e como muitas pessoas hoje - ele se definia pelos seus objetivos, e não necessariamente por aquilo que poderia ser sua essência. A crítica do autor vem da seguinte forma, metaforicamente pensando: Agilulfo era um cavaleiro por fora (tinha o título, seria imortalizado), mas exatamente por colocar os seus objetivos, aquilo que ele fazia e realizava, acima daquilo que ele era, passou a se tornar unicamente o seu objetivo, a sua própria existência se esvaziou e, então, deixou de existir.

Enfim, é um livro escrito de uma maneira próxima até das fábulas, a própria descrição da versão de bolso, por exemplo, classifica-o como um "conto de cavalaria às avessas". Creio ser uma obra extremamente irônica, bem escrita, claro, e de um elevadíssimo valor não só literário como conceitual.