Lembrei muito desse livro ontem ao assistir o também polêmico e arrebatador filme do diretor grego Constantin Costa-Gavras: Amén. O filme se concentra menos na figura de Pio XII (como na história original, uma peça encenada pela primeira vez em 1963) e mais no impacto que a atitude do papa tem sobre dois homens – um oficial da SS nazista e um padre jesuíta.
O primeiro, Kurt Gerstein, é um personagem verídico. Interpretado de forma soberba pelo alemão Ulrich Tukur, Gerstein era protestante devoto e um dos cientistas responsáveis pelo desenvolvimento do gás Zyklon-B – que a princípio servia para descontaminar os suprimentos de água dos soldados do Reich, mas logo se descobriu ser igualmente eficaz no extermínio em massa de prisioneiros inocentes. Obrigado a cuidar do fornecimento de Zyklon-B, Gerstein horrorizou-se com o que viu e tentou de todas as maneiras divulgar suas denúncias. Procurou pastores protestantes e diplomatas de países neutros, em vão. Ao se render aos franceses em 1945, Gerstein escreveu um depoimento que foi uma das peças-chave para o julgamento dos crimes alemães na II Guerra, em Nuremberg. Logo em seguida, foi encontrado enforcado em sua cela. O segundo personagem, o padre Riccardo Fontana (papel do francês Mathieu Kassovitz, ele próprio judeu), é um amálgama de sacerdotes que tentaram alertar Pio XII sobre o genocídio. No filme, ele e Gerstein unem esforços e compartilham sua perplexidade pela indiferença que os cerca – o verdadeiro tema de que se ocupa Costa-Gavras.
Amém, evidentemente, causou agravo em países de forte influência católica, como a Itália e a França. Menos por sua narrativa relativamente equilibrada, que se lembra de fazer justiça aos inúmeros padres católicos que abrigaram judeus, e mais pelo cartaz do filme, que funde uma cruz a uma suástica e foi criado pelo designer italiano Oliviero Toscani, autor de polêmicas campanhas da Benetton nos anos 90. Como propaganda, é enganosa. O cartaz promete um indiciamento, mas o que Amém entrega é um exame moral – algo muito mais interessante e mais rico.
O filme não traz cenas já muito utilizadas em filmes com esse tema, aqui não vemos imagens de judeus sendo mortos em centros de concentração, ou expulsos de suas casas, ou sendo transportados de forma sub-humana em trens pelo continente europeu. Mas algo muito mais chocante ao expor a ferida histórica em uma cena em que o embaixador do III Reich fala ao Papa Pio XII: “ Nós não estamos fazendo nada que a sua igreja já não tenha feito,vocês purificavam com fogo, nós purificamos em larga escala.”
Acho que não preciso escrever mais nada, vale a pena ver o Filme de Costa-Gravas e se possível ler o livro de John Cornwell.
Caramba, não vi esse do Gravas... mas pelo que li aqui, é uma PORRADA na cara do espectador!!! Coisa já bem típica desse ótimo e politizado cienasta!
ResponderExcluirGostei ndo seu blog, Evandro, e estou te seguindo!
Obrigado também pela visita ao meu, estarei aqui mais vezes... abraços!!!
www.vemaquinomeublog.blogspot.com
*cineasta
ResponderExcluirCara, gostei muito tbm do seu Blog, ele passa cultura. Sai daquela normalidade dos blogs de hoje em dia que só fazem piada. Adoro ler e assistir filme, e aqui você conta uma parte da historia dos mesmos. Muito bom. Estou seguindo tbm. Todas as vezes que possivel, estarei visitando.
ResponderExcluirAbraço, À Censura.
Evandro,
ResponderExcluirFui indicado com o Prêmio Dardos. Fiquei agradecido e a quem recebe o prêmio, deve indicar blogs amigos para receber também. O seu está indicado por mim, fica a seu critério dar continuidade ao processo.
É só dar uma olhada no meu blog, a postagem com o título "Prêmio Dardos" em 20.11.2010.
Grande abraço e bom final de semana.
Eu já tinha visto esse filme em uma locadora, mas nunca me interessei em assistir pensando se tratar de mais um filme do Holocausto. Não que eu não goste, mas tem alguns que acabam mostrando cenas clichês como vc mesmo ressaltou. Assim que eu criar vergonha na cara, farei um cadastro na locadora e pegarei esse filme pra assistir. Gostei da sua apreciação, não imaginava que esse filme fosse isso tudo. Valeu!
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