Mostrando postagens com marcador Cinema. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Cinema. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 9 de março de 2011

Os 10 Filmes Mais Premiados do Oscar



Aproveitando a onda de comentários feitos a respeito da 83° edição do Oscar, que rolou no dia 27 de fevereiro, o sabor da letra vai revelar quais foram os filmes mais premiados com essa estatueta. Como há diversos longas que levaram o mesmo número de prêmios, levarei em consideração o ano de lançamento do filme.



10. Sindicato de ladrões (1954): 8 estatuetas
Melhor Filme, Melhor Direção (Elia Kazan), Melhor Direção de Arte, Melhor Ator (Marlon Brando), Melhor Atriz Coadjuvante (Eva Marie Saint), Melhor Roteiro, Melhor Fotografia e Melhor Edição.



Esse é o longa que deu ao ator Marlon Brando seu primeiro Oscar, ao interpretar um boxeador (ele viria a ganhar o prêmio novamente em 1972, em O Poderoso Chefão).

9. A um passo da eternidade (1953): 8 estatuetas
Melhor Filme, Melhor Direção (Fred Zinnemann), Melhor Ator Coadjuvante (Frank Sinatra), Melhor Atriz Coadjuvante (Donna Reed), Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Fotografia, Melhor Som e Melhor Edição.


O filme que levou 8 estatuetas do Oscar teve uma refilmagem para a TV americana em formato de minissérie. Uma anotação curiosa de metalinguagem a respeito desse longa: o ator Eli Wallach tinha aceitado o papel de “Angelo Maggio”, mas mudou de ideia por ter preferido atuar na peça teatral da Broadway Camino Real, produzida por Elia Kazan. O filme O Poderoso Chefão (1972) explora a história, mostrando que na verdade o ator teria sido “convencido” pela máfiaa desistir do papel, para que Frank Sinatra pudesse interpretá-lo em seu lugar, pois na época o cantor estava em baixa.


8. E o vento levou (1939): 8 estatuetas
Melhor Filme, Melhor Direção (Victor Fleming), Melhor Direção de Arte, Melhor Atriz Coadjuvante (Hattie McDaniel), Melhor Atriz (Vivien Leigh), Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Fotografia e Melhor Montage


Na realidade, o filme levou 10 estatuetas no Oscar de 1940. Ocorre que duas delas foram de prêmios especiais e não serão contabilizados na nossa contagem por não existirem em todas as edições da premiação. Esses dois prêmios inéditos devem-se ao fato de o longa ser pioneiro em diversas tecnologias de imagem: o Oscar Técnico foi oferecido pelo pioneirismo na utilização de equipamentos coordenados e o Oscar Honorário, pelo desempenho no uso de cores para valorização do humor dramático.


7. O paciente inglês (1997): 9 estatuetas
Melhor Filme, Melhor Direção (Anthony Minghella), Melhor Direção de Arte, Melhor Atriz Coadjuvante (Juliette Binoche), Melhor Fotografia, Melhor Figurino, Melhor Edição, Melhor Trilha Sonora e Melhor Mixagem de Som.



Esse filme, que levou 9 estatuetas, é baseado no romance homônimo de Michael Ondaatje. A atriz Kristin Scott Thomas foi escalada após ter enviado uma cartinha ao diretor Anthony Minghella na qual lia-se “Eu sou ‘K’ no seu filme”, uma referência à sua personagem Katharine no livro de Michael Ondaatje: “Eu sou ‘K’ no seu livro?”. Criatividade leva a gente longe.

6. O último imperador (1987): 9 estatuetas
Melhor Filme, Melhor Direção (Bernardo Bertolucci), Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Direção de Arte, Melhor Figurino, Melhor Edição, Melhor Trilha Sonora, Melhor Fotografia e Melhor Som.


O filme, que ganhou o prêmio em todas as 9 categorias ao qual foi indicado, é uma biografia de Aisin-Gioro Pu Yi, o último imperador da China Imperial. Talvez por isso tenha sido o primeiro longa a ter autorização do governo da China para filmar na Cidade Proibida.

5. Gigi (1958): 9 estatuetas
Melhor Filme, Melhor Direção (Vincente Minnelli), Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Direção de Arte, Melhor Figurino, Melhor Edição, Melhor Trilha Sonora, Melhor Fotografia e Melhor Canção Original.

Gigi, que levou 9 estatuetas, é uma comédia romântica musical. Curiosidade totalmente irrelevante: o filme entrou no Guinness Book em 2008, como menor nome original de um filme que ganhou o Oscar.

4. Amor, sublime amor (1961): 10 estatuetas
Melhor Filme, Melhor Direção (Robert Wise), Melhor Direção de Arte, Melhor Atriz Coadjuvante (Rita Moreno), Melhor Ator Coadjuvante (George Chakiris), Melhor Fotografia, Melhor Figurino, Melhor Edição, Melhor Trilha Sonora e Melhor Som.


O musical dramático que levou 10 estatuetas é, na realidade, a adaptação de um número da Broadway e ocupa a segunda posição da Lista dos Maiores Musicais Estadunidenses de Todos os Tempos, elaborada pelo American Film Institute (AFI). Como o filme conta a história das brigas entre gangues de rua, os produtores tentaram criar uma certa rixa entre os atores que interpretavam os grupos rivais: davam roteiros limpos e organizados e camarins perto das locações ao elenco dos Jets, enquanto o elenco dos Sharks ganhava roteiros sujos e confusos, além de camarins distantes dos sets de filmagem. Pelo jeito, a técnica deu certo.


3. O senhor dos anéis – O retorno do rei (2003): 11 estatuetas
Melhor Filme, Melhor Direção (Peter Jackson), Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Direção de Arte, Melhor Figurino, Melhor Maquiagem, Melhores Efeitos Visuais, Melhor Edição, Melhor Trilha Sonora, Melhor Mixagem de Som e Melhor Canção Original.




O filme que encerra a trilogia O Senhor doas Anéis ganhou todas as indicações que teve, levando 11 estatuetas. Ele também ocupa a sétima bilheteria da história do cinema: faturou US$ 1.390.530.963 (é muito algoritmo em um só número).

2. Titanic (1997): 11 estatuetas
Melhor Filme, Melhor Direção (James Cameron), Melhor Direção de Arte, Melhor Fotografia, Melhor Figurino, Melhores Efeitos Visuais, Melhor Edição, Melhor Trilha Sonora, Melhor Mixagem de Som, Melhor Edição de Som e Melhor Canção Original.

Muita gente diz que Titanic não merecia levar todos os prêmios que ganhou (o filme possui 243 erros de sequência, imagem etc.). Mas, sejamos justos, a equipe deu duro: a água usada nas gravações estava realmente fria (já que o vapor da água quente embaçaria as lentes das câmeras) James Cameron passou 12 horas em um submarino para investigar os destroços do navio original e ainda teve que inventar uma câmera que suportasse a pressão sob 4.000 metros de profundidade do oceano, que foi usada para realizar as gravações do Titanic Original. Além disso, com o dinheiro gasto para a produção do filme e a construção da réplica do navio (200 milhões de dólares), dava para ter construído outro Titanic.

1. Ben-Hur (1959): 11 estatuetas
Melhor Filme, Melhor Direção (William Wyler), Melhor Direção de Arte, Melhor Ator (Charlton Heston), Melhor Ator Coadjuvante (Hugh Griffth), Melhor Fotografia, Melhor Figurino, Melhores Efeitos Especiais, Melhor Montagem, Melhor Trilha Sonora e Melhor Som.

Apesar de ser a terceira adaptação da história para as telonas, essa versão ficou consagrada ao levar 11 estatuetas. O filme também foi uma tentativa bem-sucedida da Metro-Goldwyn-Mayer (MGM) de sair da ameaça de falência. Uma outra curiosidade interessante a respeito de Ben-Hur é que foi utilizado um composto químico para azular a água usada no tanque para as cenas de guerra marítima. Ocorre que um figurante caiu no reservatório e ao sair estava totalmente azul. A MGM teve que pagar o salário para o ator por meses, até sua pele voltar ao normal.

Fonte: Os 10 Mais – 250 listas que todo mundo deveria conhecer e CinePlayers.


domingo, 27 de fevereiro de 2011

Oscar 2011


 Torcida de hoje:

Melhor filme: A Origem ou Cisne Negro

Melhor roteiro original: A Origem

Melhor diretor: Darren Aronofsky por Cisne Negro

Melhor ator: Javier Bardem por Biutiful

Melhor atriz: Natalie Portman por Cisne Negro

Melhor ator coadjuvante: Christian Bale por O Vencedor

Melhor atriz coadjuvante: Melissa Leo por O Vencedor 

Melhor filme de língua estrangeira: Biutiful (México)
 
Melhor animação: Toy Story 3
 

sábado, 12 de fevereiro de 2011

MINEIRINHO - Clarice Lispector



Cartaz do filme de Aurélio Teixeira, em 1967
Mineirinho, que inspirou o conto de Clarice Lispector, foi mais um desses chamados "bandidos", transformados pela imprensa marrom no inimigo público número um. Para os moradores do morro, Mineirinho era uma versão carioca de Robin Hood. Sua morte com 13 tiros foi noticiada com estardalhaço.
Leiam trecho no Correio da Manhã, em 1º de maio de 1962:
"José Rosa de Miranda, o Mineirinho, foi encontrado morto, ontem na Estrada Grajaú-Jacarepaguá, no Rio, com 13 tiros de metralhadora em várias partes do corpo - três deles nas costas e quatro no pescoço - uma medalha de ouro de S. Jorge no peito e Cr$ 3.112 nos bolsos, e sem os seus sapatos marca Sete Vidas, atirados a um canto."


Ë, suponho que é em mim, como um dos representantes do nós, que devo procurar por que está doendo a morte de um facínora. E por que é que mais me adianta contar os treze tiros que mataram Mineirinho do que os seus crimes.
Perguntei a minha cozinheira o que pensava sobre o assunto. Vi no seu rosto a pequena convulsão de um conflito, o mal-estar de não entender o que se sente, o de precisar trair sensações contraditórias por não saber como harmonizá-las. Fatos irredutíveis, mas revolta irredutível também, a violenta compaixão da revolta. Sentir-se dividido na própria perplexidade diante de não poder esquecer que Mineirinho era perigoso e já matara demais; e no entanto nós o queríamos vivo. A cozinheira se fechou um pouco, vendo-me talvez como a justiça que se vinga. Com alguma raiva de mim, que estava mexendo na sua alma, respondeu fria: "O que eu sinto não serve para se dizer. Quem não sabe que Mineirinho era criminoso? Mas tenho certeza de que ele se salvou e já entrou no céu".
Respondi-lhe que "mais do que muita gente que não matou".
(...)
Essa justiça que vela meu sono, eu a repudio, humilhada por precisar dela. Enquanto isso durmo e falsamente me salvo. Nós, os sonsos essenciais.
Para que minha casa funcione, exijo de mim como primeiro dever que eu seja sonsa, que eu não exerça a minha revolta e o meu amor, guardados. Se eu não for sonsa, minha casa estremece. Eu devo ter esquecido que embaixo da casa está o terreno, o chão onde nova casa poderia ser erguida. Enquanto isso dormimos e falsamente nos salvamos.
Eu não quero esta casa. Quero uma justiça que tivesse dado chance a uma coisa pura e cheia de desamparo em Mineirinho — essa coisa que move montanhas e é a mesma que o fez gostar "feito doido" de uma mulher, e a mesma que o levou a passar por porta tão estreita que dilacera a nudez; é uma coisa que em nós é tão intensa e límpida como uma grama perigosa de radium, essa coisa é um grão de vida que se for pisado se transforma em algo ameaçador — em amor pisado; essa coisa, que em Mineirinho se tornou punhal, é a mesma que em mim faz com que eu dê água a outro homem, não porque eu tenha água, mas porque, também eu, sei o que é sede; e também eu, que não me perdi, experimentei a perdição.
A justiça prévia, essa não me envergonharia. Já era tempo de, com ironia ou não, sermos mais divinos; se adivinhamos o que seria a bondade de Deus é porque adivinhamos em nós a bondade, aquela que vê o homem antes de ele ser um doente do crime.
Continuo, porém, esperando que Deus seja o pai, quando sei que um homem pode ser o pai de outro homem. E continuo a morar na casa fraca. Essa casa, cuja porta protetora eu tranco tão bem, essa casa não resistirá à primeira ventania que fará voar pelos ares uma porta trancada. Mas ela está de pé, e Mineirinho viveu por mim a raiva, enquanto eu tive calma.
Foi fuzilado na sua força desorientada, enquanto um deus fabricado no último instante abençoa às pressas a minha maldade organizada e a minha justiça estupidificada: o que sustenta as paredes de minha casa é a certeza de que sempre me justificarei, meus amigos não me justificarão, mas meus inimigos que são os meus cúmplices, esses me cumprimentarão; o que me sustenta é saber que sempre fabricarei um deus à imagem do que eu precisar para dormir tranqüila e que outros furtivamente fingirão que estamos todos certos e que nada há a fazer.
Tudo isso, sim, pois somos os sonsos essenciais, baluartes de alguma coisa. E sobretudo procurar não entender.
(...)
Até que viesse uma justiça um pouco mais doida. Uma que levasse em conta que todos temos que falar por um homem que se desesperou porque neste a fala humana já falhou, ele já é tão mudo que só o bruto grito desarticulado serve de sinalização.
Uma justiça prévia que se lembrasse de que nossa grande luta é a do medo, e que um homem que mata muito é porque teve muito medo.
Sobretudo uma justiça que se olhasse a si própria, e que visse que nós todos, lama viva, somos escuros, e por isso nem mesmo a maldade de um homem pode ser entregue à maldade de outro homem: para que este não possa cometer livre e aprovadamente um crime de fuzilamento.
Uma justiça que não se esqueça de que nós todos somos perigosos, e que na hora em que o justiceiro mata, ele não está mais nos protegendo nem querendo eliminar um criminoso, ele está cometendo o seu crime particular, um longamente guardado.
Na hora de matar um criminoso - nesse instante está sendo morto um inocente. Não, não é que eu queira o sublime, nem as coisas que foram se tornando as palavras que me fazem dormir tranqüila, mistura de perdão, de caridade vaga, nós que nos refugiamos no abstrato.
O que eu quero é muito mais áspero e mais difícil: quero o terreno

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

O Tempo...Lavoura Arcaica, Raduan Nassar


 O tempo é o maior tesouro de que um homem pode dispor; embora inconsumível, o tempo é o nosso melhor alimento; sem medida que o conheça, o tempo é contudo nosso bem de maior grandeza: não tem começo, não tem fim; o tempo está em tudo.

Rico só é o homem que aprendeu, piedoso e humilde, a conviver com o tempo, aproximando-se dele com ternura, não contrariando suas disposições, não se rebelando contra seu curso, não irritando sua corrente, estando atento para o seu fluxo, brindando-o antes com sabedoria para receber dele os favores e não a sua ira; o equilíbrio da vida depende essencialmente deste bem supremo, e quem souber com acerto a quantidade de vagar, ou a de espera, que se deve pôr nas coisas, não corre nunca o risco, ao buscar por elas, de defrontar-se com o que não é;  pois só a justa medida do tempo dá a justa natureza das coisas, não bebendo do vinho quem esvazia num só gole a taça cheia; mas fica a salvo do malogro e livre da decepção quem alcançar aquele equilíbrio, é no manejo mágico de uma balança que está guardada toda a matemática dos sábios, num dos pratos a massa tosca, modelável, no outro, a quantidade de tempo a exigir de cada um o requinte do cálculo, o olhar pronto, a intervenção ágil ao mais sutil desnível.

O tempo sabe ser bom, o tempo é largo, o tempo é grande, o tempo é generoso, o tempo é farto é sempre abundante em suas entregas: amaina nossas aflições, dilui a tensão dos preocupados, suspende a dor aos torturados, traz a luz aos que vivem nas trevas, o ânimo aos indiferentes, o conforto aos que se lamentam, a alegria aos homens tristes, o consolo aos desamparados, o relaxamento aos que se contorcem, a serenidade aos inquietos, o repouso aos sem sossego, a paz aos intranqüilos, a umidade às almas secas; satisfaz os apetites moderados, sacia a sede aos sedentos, a fome aos famintos, dá a seiva aos que necessitam dela, é capaz ainda de distrair a todos com seus brinquedos; em tudo ele nos atende, mas as dores da nossa vontade só chegarão ao santo alívio seguindo esta lei inexorável: a obediência absoluta à soberania incontestável do tempo, não se erguendo jamais o gesto neste culto raro; é através da paciência que nos purificamos, em águas mansas é que devemos nos banhar, encharcando nossos corpos de instantes apaziguados, fruindo religiosamente a embriaguez da espera no consumo sem descanso desse fruto universal, inesgotável, sorvendo até a exaustão o caldo contido em cada bago, pois só nesse exercício é que amadurecemos, construindo com disciplina a nossa própria imortalidade, forjando, se formos sábios, um paraíso de brandas fantasias onde teria sido um reino penoso de expectativas e suas dores(..)`

(Trecho de Lavoura Arcaica – Raduan Nassar)



terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Run Lola Run - Onde o tempo é o dono da história



Três possíveis finais diferentes. Ou podemos dizer que é um filme “três em um”. “Corra Lola Corra” é um filme alemão, que acontece seguido de uma trilha sonora frenética embalada por um ritmo tecno. Impossível dormir no filme. Aparentemente ele é repetitivo, mas a surpresa de saber o que vai acontecer com os personagens em vez que a história volta prende a atenção.
Deixe-me primeiro contar como que funciona o roteiro do filme. Manni (Moritz Bleibtreu) trabalha para uma quadrilha de contrabandistas trazendo e levando dinheiro. No seu último trabalho ele esquece uma quantia de 100 mil marcos dentro do metrô. Desesperado, ele tem apenas 20 minutos para recuperar o dinheiro e entregá-lo ao seu chefe. Caso contrário, adeus Manni. Ele liga então para sua namorada Lola (Franka Potente) pedindo ajuda. A única solução que Lola acha é pedir ajuda ao seu pai, que trabalha num banco. E assim começa a corrida de Lola, que sai de casa com o objetivo de ajudar Manni.
No caminho Lola ela encontra vários pessoas. A história se repete três vezes – desde o momento em que ela atende a ligação do namorado até o fechamento da história. Em cada história ela encontra-se de maneiras diferentes com esses personagens secundários. Ora ela bate neles, ora ela nem os vê. E as escolhas de Lola, de seguir tal caminho e tomar tal atitude, também influenciam na vida desses personagens. O futuro deles aparece em forma de fotografias. Assim que Lola passa por eles o filme nos mostra o que aconteceu com eles no futuro.
O fechamento de cada história usa a cor como ferramenta. Sempre que uma história acaba a tela fica vermelha e mostra um diálogo de Lola com Manni. E logo Lola volta a correr para chegar num outro final. E olha que essa mulher corre. A primeira coisa que me passou pela cabeça foi pensar no excelente preparo físico da atriz, que corre loucamente durante todo o filme.
O filme tem também suas tiradas cômicas. Como os momentos em que Lola grita de maneira tão estridente que quebra os vidros do local. É uma atitude tão inesperada que parte da personagem que chega a ser engraçada. Lola se mostra uma pessoa controlada a maior parte do tempo. Mesmo sabendo que tem apenas 20 minutos para salvar o namorado ela sabe que vai achar alguma solução.
Esses 20 minutos é outro fator que me incomodou durante o filme. 20 minutos é o tempo estipulado por Manni no telefone quando fala com Lola. O filme tem 81 minutos, 21 minutos de abertura e os outros 60 para as três corridas de Lola - cada corrida com 20 minutos. Aparentemente é impossível Lola fazer tudo o que faz em tão pouco tempo. Os acontecimentos paralelos a corrida não são contados nesses 20 minutos e você percebe isso também pela maneira diferente que são mostrados. As imagens ficam levemente desfocadas.
Depois de fazer uma pesquisa sobre o filme, descobri que o número 20 aparece mais 2 vezes durante o filme. Quando Lola entra no cassino falta 20 centavos de marco para ela conseguir a ficha de 100 marcos. E ainda dentro do cassino ela insiste em apostar no número 20. E é com esse número que ela consegue os 100 mil marcos nessa parte da história. Bendito número 20, hein?
Outra coisa que descobri na pesquisa é que as cores das bolsas que são usadas por Lola, em cada uma das histórias, para guardar o dinheiro, tem seus significados. Na primeira história Lola coloca o dinheiro numa bolsa vermelha (olha o vermelho aí, mais uma vez). Isso demonstra a insegurança de Lola e a maneira insensata com que ela age num primeiro momento. A palavra falada por ela para recomeçar a sua corrida é “stop”. A segunda bolsa é verde. Ela passa a encarar com mais frieza aquilo que é um obstáculo. Está mais calma e tem um objetivo, segue em frente. Mas mesmo assim ela ainda está sendo guiada pelo extremo e pressão da situação. Mais uma vez não temos o final feliz. E a música que recomeça a história mais uma vez diz: “Just go go, never stop and never think/ To do do do do the right thing/...”. Na última e terceira corrida a bolsa é dourada, amarela. O amarelo significa atenção e reflexão para se chegar ao resultado desejado.
E só pra lembra a atriz Franka Potente fez também o filme "A Identidade Bourne" e uma pequena aparição na "Supremacia Bourne". Grandes filmes por sinal. Não conheço, além disso, a história de Franka como atriz, mas até aqui dá pra dizer que ela fez boas aparições no cinema!
E por último é importante dizer que o verdadeiro protagonista do filme é o tempo. É ele que dita as atitudes de Lola e o futuro dos figurantes. O filme é o tempo!

Baixe o filme no blog http://downloadcult.blogspot.com/2011/01/0939-corra-lola-corra-1998.html 

sábado, 22 de janeiro de 2011

O Céu de Suely, de Karim Ainouz



Uma coisa comum no nordeste é a rifa. A rifa é um modo meio que ilegal de se fazer um sorteio de um objeto qualquer e sempre com um preço lá em baixo, variando de 50 centavos a mais caro... Dois reais. E é essa rifa que vai guiar a desiludida Hermila, uma bela jovem, que volta para cidade natal, uma pequena cidade de Ceará, que volta com seu filho pequeno nos braços esperando o seu amado voltar. Mas a frustração cai por terra ao saber que seu suposto amado não voltará.


 O Céu de Suely dirigido pelo cearense Karim Ainouz (diretos de Madame Satan e protagonizado pela pernambucana Hermila Guedes. O filme se passa no grande sertão nordestino, sendo que, não é como a maioria pensa que a localidade só presta para mostrar a pobreza da região. Puro engano.


 Tentando viver com a dor de saber que o seu suposto amado não irá mais voltar, ela tenta viver na cidade onde ao mesmo tempo é uma passagem para dor, e também de novos caminhos. E para sair dessa realidade tem uma brilhante idéia. Ela para conseguir o dinheiro suficiente para voltar para São Paulo, irá rifar “uma noite no paraíso” com ela e ganha uma alcunha de Suely, ao mesmo tempo que consegue o sucesso com a rifa, irá enfrentar os preconceitos e a ética de colocar o seu corpo a prêmio.

O roteiro é algo de se elogiar. Faz o que quase nenhum filme nacional faz: fugir dos padrões dos blockbuster nacionais, colocando uma história simples, mas ao mesmo tempo rica em desenvolvimento de personagens e situações. A trilha sonora é um atrativo a mais, com músicas que ficam na sua cabeça e musicas da região e do jeito como é demonstrado surpreende um mero cético, por que, algumas canções que foram executadas como Blá Blá Blá e Coração, as duas cantadas pelo grupo Aviões do Forró e Eu Não Vou Mais Chorar cantada pelo grupo Ave de Rapina, foram tocadas com exaustão no nordeste. Porém, quando é executada no filme, ao mesmo tempo cria um tipo de saudosismo, e para completar, faz uma relação entre a canção e a personagem principal.


Os atores do filme fizeram uma atuação simples, proveniente do teatro, que ajuda na naturalização do personagem. Fora isso, o diretor opinou em usar o nome original dos atores para o filme, assim criando um tipo de desafio para os atores, dando profundidade as suas caracterizações. E com certeza e de longe, a interpretação da pernambucana Hermila Guedes, entrega uma personagem que faz cair o queixo, fazendo uma das atuações mais naturais e sensíveis do cinema brasileiro.

Um verdadeiro achado do cinema nacional, um filme que foge dos padrões estabelecidos pela nova corrente que ao mesmo tempo achou a fórmula do sucesso achou também o maior erro de tentar colocar linguagem televisiva no cinema e colocar roteiros sofríveis. Um filme que mostra que um lugar pode ter um sentido dúbio, onde pode se ver esperança em algo que já não demonstra isso. Atuações inesquecíveis. Um dos melhores filmes nacionais que já vi. Veja também!

domingo, 16 de janeiro de 2011

Transamerica


Bree Osbourne (Felicity Huffman), de seu nome de nascença Stanley Schupak, é um transsexual que está a apenas uma semana de ser submetido à operação que vai completar o processo de transformação. O que não estava à espera era de descobrir que, de uma relação que teve à 17 anos atrás, tinha resultado um filho, Toby (Kevin Zegers). Apesar de não querer, especialmente nesta altura, mais complicações na sua vida, Bree vê-se obrigada pela sua terapeuta, Margaret (Elizabeth Peña), a ir conhecer o seu filho e a descobrir como vai lidar com esta nova situação. Como não se sente à vontade para dizer a Toby que ela é de fato o seu pai, decide começar uma viagem de forma a devolver Toby a quem o criou durante todo este tempo para que possa de novo centrar-se em si. No entanto esta jornada não se revela tão simples como ela desejaria.

Duncan Tucker consegue agarrar num tema controverso que ainda não foi excessivamente explorado e criar um filme que não tenta ser chocante apenas para ganhar audiência. A vida de Bree é como é. As suas escolhas não são tomadas para ser diferente mas sim para se parecer no exterior com aquilo que acredita ser no interior e como tal a sua vida é pacata e os seus esforços vão no sentido de se enquadrar com a sociedade. Mas acima de tudo, este filme é Felicity Huffman. É o poder da sua interpretação que o leva às costas ao longo dos mais de 100 minutos e não é por acaso, nem de uma forma injusta, que ela ganhou 7 prêmios, incluindo Globo de Ouro, e que foi indicada na época para o Oscar. Kevin Zegers faz também um bom papel (que acaba por ficar na sombra do de Felicity) e a sua personagem constrasta com a de Bree na forma como se relacionam com o seu corpo. Toby, devido ao que já teve de passar, está muito mais à vontade com a sua sexualidade do que Bree, que ainda não conseguiu encontrar o equilíbrio que deseja.

Transamerica, mais do que um filme acerca de transsexualidade, é uma reflexão sobre a família moderna. Uma família onde já nem só os filhos desafiam as barreiras da sociedade. Um road movie que nos leva a percorrer os EUA junto com Bree em busca da sua verdade interior.

sábado, 15 de janeiro de 2011

Cisne Negro


Os brasileiros que acompanharem a cerimônia do Globo de Ouro neste domingo, dia 16, podem se sentir um pouco desatualizados.

Tudo porque cinco filmes que concorrem nas principais categorias ainda não estrearam por aqui.

Na categoria drama, apenas dois longas já foram exibidos nos cinemas nacionais, “A Origem” e “A Rede Social”.

“Cisne Negro”, “O Vencedor” e “O Discurso do Rei” têm estreia prevista apenas para fevereiro.

Entre as comédias e musicais, dois favoritos ainda não passaram pelo Brasil, “Burlesque” e “O Turista”.

Meu destaque é para Cisne Negro, um thriller psicológico ambientado no mundo do balé da Cidade de Nova York. Natalie Portman interpreta uma bailarina de destaque que se encontra presa a uma teia de intrigas e competição com uma nova rival interpreta por Mila Kunis. Dirigido por Darren Aronofsky (O Lutador, Réquiem para um Sonho, Pi), Cisne Negro faz uma viagem emocionante e às vezes aterrorizante à psique de uma jovem bailarina, cujo papel principal como a Rainha dos Cisnes acaba sendo uma peça fundamental para que ela se torne uma dançarina assustadoramente perfeita. O filme estréia no Brasil no dia 04 de fevereiro, mas já ganhou méritos com a crítica americana e européia.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Por que Você Faz Cinema?



Por que Você Faz Cinema?


Para chatear os imbecis
Para não ser aplaudido depois de sequências, dó de peito
Para viver a beira do abismo
Para correr o risco de ser desmascarado pelo grande público
Para que conhecidos e desconhecidos se deliciem
Para que os justos e os bons ganhem dinheiro, sobretudo eu mesmo
Porque de outro jeito a vida não vale a pena
Para ver e mostrar o nunca visto, o bem e o mal, o feio e o bonito
Porque vi "simão no deserto"
Para insultar os arrogantes e poderosos quando ficam como "cachorros dentro d'água" no escuro do cinema
Para ser lesado em meus direitos autorais.

Adriana Calcanhoto 

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

A Fita Branca, A Anatomia do Mal


Pertubador! Não pela quantidade de sangue (não há), não pelo escárneo (não há), não pelas imagens chocantes (não há). Mas, no entanto, o filme ronda a sua cabeça, seus ossos e seus músculos depois dele ter terminado há muitas horas, dias… Como filmar a maldade? Não essa maldade novelesca de reality show, não a maldade maniqueísta que luta contra o bem, não a maldade que vemos no outro, mas a maldade que está dentro de todos nós. Exatamente isso é “A Fita Branca”, de Michael Haneke, o exemplo mais profundo de como filmar a maldade em sua essência.

Para tanto, o diretor austríaco se usa de um arquétipico fundamental pra desmontá-lo e trucidá-lo em fotogramas: A pureza das crianças. A imagem angelical que ainda persiste no imaginário ocidental sobre as crianças – mesmo com quase um século de Freud e suas teorias – é desmontado paulatinamente. São representações como essa da pureza das crianças ou do macho adulto sempre no comando – mesmo com toda a luta das minorias – que se afirmam nos momentos que a Razão cochila.

O que Haneke nos oferece  é uma verdadeira anatomia moral e psicológica dos moradores do vilarejo alemão. Em "A Fita Branca", o diretor consegue um efeito parecido com outro filme seu, "Caché" (2005): enquanto o público se preocupa em desvendar os crimes, o filme passa por um deslocamento, indo do espaço público para o espaço privado, sempre com muita sensibilidade. Dentro das quatro paredes de diferentes famílias, tomamos conhecimento de uma estrutura patriarcal altamente autoritária, marcada pelo signo da punição e da disciplina. Em uma cena, por exemplo, vamos um pai bolinar a própria filha durante a madrugada. Enquanto isso, outro pai, o pastor da cidade, amarra as mãos do filho adolescente na cama para impedir que ele se masturbe (um pecado mortal). Por isso, não surpreende que o professor do vilarejo chegue à bizarra conclusão de que são aquelas crianças, em sua maioria submetida a uma educação fortemente repressora, as responsáveis pelos misteriosos crimes.

A tese de Haneke é que esta estrutura autoritária da sociedade alemã, sobretudo a patriarcal, gerou fortes sentimentos de indiferença, crueldade e desprezo entre a geração de jovens do início do século XX, a mesma geração que anos mais tarde abraçaria a causa do nazismo, tendo em Hitler muito mais do que um governante, mas um verdadeiro pai (sabemos, por exemplo, que o próprio Hitler tivera vários problemas com o seu pai durante a infância e adolescência). Logo no início do filme, o próprio narrador em off avisa: “os eventos que se passaram ali, naquele vilarejo, no início do século, são de extrema importância para se compreender os eventos dramáticos que aconteceriam na Alemanha, décadas depois”.

Essas relações de cunho causal aparecem em diversas marcas simbólicas ao longo do filme. A mais evidente é a tal fita branca do título, que o pastor força seus filhos a usarem. As crianças deveriam usar a fita para que pudessem sempre lembrar a sua condição de pecadores, uma antevisão da estrela de David usada pelos judeus durante parte do Terceiro Reich como elemento de uma estratégia de distinção social. Outra marca que merece destaque é o desprezo com que uma criança com deficiência mental (filho do médico) é tratada pelas demais crianças e adultos do vilarejo, ao ponto de ter seus olhos furados pelos autores dos demais crimes. O uso deste acontecimento, no filme, não tem nada de fortuito. Sabe-se que a Alemanha assassinou milhões de alemães deficientes mentais, sob a defesa de extirpar os “incapazes socialmente”. Esses crimes são considerados por diversos historiadores, inclusive, como um preâmbulo macabro para o que aconteceria com os judeus pouco tempo depois. Por fim, o mesmo tipo de alusão pode ser percebida quando um pai grita e espanca violentamente o filho (uma das cenas mais fortes do filme) ao saber que ele havia roubado a flauta do filho do barão. É praticamente impossível não reconhecer naquela cena o mesmo ímpeto de violência praticado pelos SS em campos de concentração.

Mas no filme, de maneira sutil, são as crianças que arquitetam e perseguem os diferentes – mas desde já isso não é explícito, o que é mais perturbador ainda. Você sabe o tempo todo sem ter provas, sem poder culpá-las. O álibi da pureza delas nos cega como quando olhamos pra neve. O que é diferente e fora das regras normativas daquela pequena comunidade é simplesmente dizimado: Seja a família desfuncional do médico do vilarejo (a questão moral), juntamente com a parteira e seu filho com problemas mentais (a questão física/étnica), além da família pobre de camponeses e o aristocrata do vilarejo (a questão econômica). Muitos críticos enxergam aí, nesse tripé, a alegoria da consolidação do nazismo que surgirá duas décadas depois. Acho válida a visão apesar de pouco profunda.

 Isso está para além de um tempo histórico. É o pacto com a maldade de todos nós que reside a essência incoveniente do filme. Quando nos silenciamos diante do mal, quando nos enganamos e desvirtuamos os acontecimentos para não encararmos de frente a maldade, quando o nosso mal é a passividade ou pior, a desautorização de acontecimentos graves para que possamos ter a consciência tranquila ou ainda quando acreditamos, por facilidade, que esse é o bem. Nesse momento somos todos maus.


segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Wim Wenders, Die Himmel Über Berlin


Noite de muita chuva no Rio de Janeiro, nada mais a fazer senão escolher um filme para rever.Tendo em vista a revisão de texto e a pesquisa de signos que estou fazendo para a peça "A Morte do Anjos", escolhi " Asas do Desejo".

Esta talvez seja a maior e mais adorada obra do alemão Wim Wenders, um cineasta cuja obra é marcada por uma poesia sempre apaixonada pela mídia áudio-visual (o próprio cinema) e embalando personagens geralmente perdidos em paisagens esparsas. Ver Asas do Desejo (Der Himmel Über Berlim, Alemanha-França, 1987) quase 25 anos após o seu nascimento significa avisar os mais desligados que este filme não é uma imitação feita às pressas de Cidade dos Anjos (City of Angels, EUA, 1998), mas sim a rica fonte a partir da qual Hollywood extraiu este xaropinho que Meg Ryan e Nicolas Cage nos servem às colheradas.

Concentremos no original, uma abordagem profunda e hipnotizante sobre a solidão e a necessidade de encontrar alguém que nos faça inteiro, ou se preferirem, uma celebração da vida, muito embora quase todos os seus personagens pareçam estar imersos num estado terminal de melancolia durante todo o filme. Uma belíssima obra, sensível, profunda e que nos faz refletir profundamente sobre nossa condição humana.

 Desde a primeira cena somos levados a mergulhar nos pensamentos de diversas pessoas, o que inicialmente pode ser tedioso, mas que com o tempo se revela uma grande arma de reflexão do filme. Às vezes os pensamentos são tão densos que me vi pausando o filme pra pensar um pouco mais sobre o que tinha acabado de ver.

A fotografia é avassaladora e o jogo realizado entre o preto-e-branco e o colorido é um grande trunfo utilizado para dar dimensões diferentes à vida de um anjo – eterna, mas sem cor - e a dos seres humanos – finita e cheia de problemas, mas com sensações inegavelmente coloridas.

O amor, aqui é trabalhada de forma  sutil e intercalada com vários momentos dos anjos que acompanham os pensamentos das pessoas. Destacam-se os pensamentos de um senhor bem idoso chamado Homero, que todo o tempo desabafa a impossibilidade de contar suas histórias, já que agora todos preferem lê-las – homenagem clara ao Homero grego.

É também Homero que, dentro e fora da biblioteca onde se passam vários momentos do filme, faz reflexões acerca de Berlim, cidade onde se passa a história. A cidade, fortemente atingida por ter sido palco da Segunda Guerra, é mais um dos ricos temas desenvolvidos na película. Em algumas cenas, inclusive, são exibidas partes de documentários que retratam a guerra e a Berlim pós-guerra. Mais um elemento que torna o filme imperdível.

O amor impossível se torna apenas uma metáfora uma vez que, através da escolha feita pelo anjo entre a imortalidade e a humanidade, Wenders desenvolve a principal temática do filme: o conflito humano.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Billy Elliot



BILLY ELLIOT é a história de um garoto que, através de seu amor inesperado pela dança, embarca numa viagem de auto-descoberta num mundo de greves, estereótipos culturais, uma família em crise e uma professora de ballet determinada. Quando esse menino de 11 anos presencia uma aula de ballet que é dada no mesmo galpão onde treina boxe, alguma coisa na mágica dos movimentos atrai a sua imaginação e logo ele vai querer enterrar as luvas de boxe para se esgueirar no fundo das aulas da Sra. Wilkinson.

O prazer da Sra. Wilkinson em lecionar - com seu ótimo olho para perceber talentos - é revivido quando ela vê o potencial de Billy. Sem esquecer das outras bailarinas, ela se dedica a ensinar seu novo protégé. Enquanto isso, o pai de Billy e seu irmão mais velho, Tony - ambos mineiros em greve -, lutam para levar comida à mesa todos os dias. Suas frustrações finalmente explodem quando descobrem que Billy estava gastando o dinheiro das aulas de boxe em atividades pouco masculinas. Proibido de fazer ballet, atormentado pelo comportamento cada vez mais senil de sua avó e com saudade de sua recém-falecida mãe, Billy aprofunda seu relacionamento com o colega de escola Michael, numa amizade emocionante, enquanto a nova colega, Debbie, filha da Sra. Wilkinson, desperta sentimentos assustadores, mas nada desconfortáveis ao garoto.

A Sra. Wilkinson finalmente consegue persuadir Billy a ter aulas particulares, de graça, dizendo-lhe que quer que ele faça um teste para a principal escola de ballet da Inglaterra. Os dois se envolvem numa rotina e relacionamento intensos. Billy não consegue fazer o teste porque, nesse mesmo dia, Tony tem um problema com a polícia. Decidida a ajudar o menino, a Sra. Wilkinson procura o pai de Billy para explicar a oportunidade extraordinária que o seu filho está perdendo, mas é recebida por um Tony irado - para a humilhação de Billy.

Desolado pela falta de compreensão de sua família, Billy joga todos os seus sentimentos numa dança só para Michael ver, mas é pego por seu pai, que fica surpreso pela força e talento do filho. A partir desse instante, ele concorda em ajudar o garoto a fazer o teste em Londres. Com o apoio dos outros mineiros, Billy e seu pai finalmente vão para a capital para o tão sonhado teste e voltam para casa ansiosos, aguardando a decisão da escola de ballet.

Quinze anos mais tarde, o pai, Tony e Michael olham com orgulho a cortina subir para dar início à première de Billy num papel principal no West End de Londres.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Fim de Caso


Todo começo de ano revejo os filmes que marcaram minha vida.Por isso acabo de rever“Fim de Caso” (The End of the Affair), um tocante filme de 1999 indicado a dois Oscars e quatro Globos de Ouro e dirigido por Neil Jordan. O filme é baseado no livro do mesmo nome do escritor Graham Greene, publicado na Inglaterra em 1951 e de cunho fortemente católico.

Numa noite chuvosa de 1946, o novelista Maurice Bendrix (Ralph Fiennes) encontra Henry Miles (Stephen Rea), marido de sua ex-amante Sarah (Julianne Moore). Maurice e Sarah tiveram um tórrido caso dois anos antes, até que, sem qualquer explicação, Sarah terminou o romance. O encontro com Henry reacende a obsessão de Maurice por Sarah, num misto de ciúme e desejo em reencontrá-la. Para tanto, começa uma investigação, para poder entender o porquê do rompimento do romance entre os dois.

Ao usar truques de narrativa interessante o roteirista e diretor do filme Neil Jordan, conquista o público mesmo é com a simplicidade da história, é apenas uma história triste de amor impossível, é um filme sobre ódio, culpa, dor, e principalmente, escolhas. Poucos filmes emocionaram tanto quando esse, a veracidade dos diálogos jamais soam como algo falso, superficial.

Neil Jordan trabalha com montagem não-linear, opta por uma ordem não cronológica, e usa truques que outros filmes já usaram, o de ver a mesma cena várias vezes mudando apenas o ponto de vista, de acordo com cada personagem, truque já usado em Elefante, e no recente Desejo e Reparação, montagem muito peculiar essa.

Sobre o elenco, Julianne Moore, como sempre competente, exerce uma personagem amargurada e ao mesmo tempo corajosa, correndo desesperada atrás de sua felicidade, passeando por vários sentimentos como medo, amor, dúvida, é sempre bom ver o trabalho minimalista dessa atriz, que a cada trabalho muda, ela não engorda ou emagrace, mas muda, a forma de andar, a voz (é impressionante o trabalho de voz de Julianne Moore), não é a toa que tem o reconhecimento que tem, é porque merece.


Agora chegando ao ponto surpreendente do elenco, Ralph Fiennes, contracenando ao lado de Moore, mas não é ela quem chama a atenção, é Fiennes, estabelecendo Maurice como um sujeito dúbio, em certo momento do filme ele pede á Sarah: “Por favor, não vá”, até então o personagem não sabe que ao ir embora, Sarah o estará deixando para sempre, mas Fiennes estabelece um jogo dúbio com o expectador, falando como se já soubesse que provavelmente não veria mais sua amante. É bom quando o ator estabelece esse jogo de ambigüidade ao expectador, permitindo várias interpretações daquilo, e ao dizer “Por favor, não vá”, poucas vezes vimos tamanho desespero e amor sem o ator sequer piscar os olhos, acredito que só vi esse tipo de cena uma vez, em Sleepers – Vingança Adormecida, quando Dustin Hoffman ameaça outro personagem sem sequer olhar para ele. Tenho certeza de que se Ralph Fiennes fosse indicado ao Oscar, essa seria sua cena exibida, e com méritos.

Por último, Stephen Rea, competente no que lhe é proporcionado, apesar de seu personagem não ser bem desenvolvido pelo roteiro e não ter a importância que merecia e podia, ele se sai bem como o desiludido Henry Miles.

A trilha de de Michael Nyman, o mesmo do ótimo O piano, é excelente, comovente e triste. A fotográfica é ótima, desde as cenas de bombas perto do apartamento de Maurice aos enquadramentos de quando os dois estão junto, quando Maurice e Sarah se beijam na chuva.

Só tem uma palavra que pode resumir Fim de caso: antológico. Daqui a 10 ou 20 anos, quando se falar em filmes de romance, não só As Pontes de Madison ou Antes do Amanhecer serão citados, mas Fim de Caso também estará nessa lista. Um filme inesquecível. Se você viu sabe que estou certo, se não viu, vá a sua locadora e repare essa falha.

sábado, 1 de janeiro de 2011

O Primeiro Dia...




O destino de João ( Luiz Carlos Vasconcelos), encarcerado em um presídio do Rio de Janeiro, jamais deveria cruzar o de Maria ( Fernanda Torres), isolada em seu apartamento. Mas no dia 31 de dezembro, João foge da prisão. No mesmo momento, Maria vaga pelas ruas da cidade, desamparada. João é perseguido nos becos e favelas de Copacabana. Começa a contagem regressiva para a virada do ano. Estouram os primeiros fogos de artifício. Sem nenhuma perspectiva, Maria sobe para o teto de seu prédio, o mesmo lugar onde João tenta se esconder dos seus perseguidores.

É nesse espaço, entre o céu e a terra, na utopia de uma única noite, que a cidade partida finalmente se abraça, que o milagre se produz… até a chegada do primeiro dia. Um filme avassalador, construído na fenda da felicidade de encerrar um ciclo e abrir um novo.

A carreira inteira de Walter Salles (diretor de Central do Brasil, Terra Estrangeira, Abril Despedaçado, Diários de Motoclicleta e do recente Linha de Passe) pode ser interpretada como um olhar sobre o recomeço: todos os seus personagens principais olham para a vida como se cada minuto fosse uma chance de tentar de novo, de poder reviver do zero a vida. Daí os temas da viagem, da fuga, da perda, do encontro dos opostos, dos avessos do acaso.

 O Primeiro Dia explicita esse gosto pelos "excluídos", que nesse caso são os excluídos da vida: o homem que decide largar a esposa às vésperas do dia 1º de janeiro, a professora cujo mundo explodiu e vai tentar o suicídio, o presidiário que tem que matar o melhor amigo para fugir da cadeia, o malandro que tem que se foragir mas resolve fazer a última visita à casa, um velho detento que acha que o mundo inteiro vai mudar na passagem do ano ("vai mudar tudo, o um vai virar dois, o nove vai virar zero, o outro nove vai virar zero, o outro nove vai virar zero também": impressionante interpretação de Nélson Sargento).



terça-feira, 28 de dezembro de 2010

"Há Tanto Tempo Que Te Amo" e o resgaste das relações




À primeira vista, o título" Há Tanto Tempo Que Te Amo" pode levar a pensar que este filme francês se trate de um drama romântico sobre paixões reprimidas e amores não concretizados. Nada mais enganador. A frase vem de uma música que tem uma grande importância para as duas irmãs protagonistas da história e que as remete ao resgate de um doloroso passado.

A personagem principal da trama, Juliette (Kristin Scott Thomas), sai da prisão após 15 anos. Cumpriu a pena por assassinato. Ainda em condicional, terá que comparecer a Delegacia a cada 15 dias, para assinar um prontuário. Aqui, acaba por despertar a simpatia do Delegado. Ambos, amargurados pelo rumo que tomaram suas vidas. Ainda comentando um pouco sobre essa relação, parte dele um outro crédito a ela para uma volta à sociedade. Mesmo não sabendo o porque ela fez o que fez, ele credita nela uma oportunidade de um recomeço.

Juliette aceitou o seu crime. Nada poderia lhe doer mais do que tivera que fazer. Mas houve uma dor se não maior, tão dolorida quanto. A de ser excluída pela própria família: os pais e uma irmã caçula. Todos aqueles anos, sem nenhum contato.

Mas é essa sua irmã, Léa, que a acolhe em sua casa. Junto a sua família. Pois agora, não era mais a menina que fora obrigada pelos pais, a esquecer de Juliette. Ainda ressentida, já deixa claro que quem a procurou fora o pessoal do Serviço Social. Léa entende a armadura da irmã, e diz que eles fizeram muito bem em procurá-la.

Quem ela matou, é dito logo no início. O porque, apenas no finalzinho. Deixo a sugestão que não fiquem voltado apenas nisso. Pois além de perderem um pouco do crescimento dessas duas mulheres – e isso eu ressalto por mostrar o universo feminino com muita sensibilidade -, poderão não perceber tudo mais. No que resultou na vida de todos com aquela tomada de decisão de Juliette a quinze anos atrás, como na dos demais com a convivência atual com ela.

Um outro ponto que quero salientar, é sobre o de empregar ex-detentos. Eu destaco isso também num outro filme, recentemente. No ‘Evidências de um Crime‘. Quando esse assunto é abordado num filme, abre caminho para uma diminuição no preconceito que há no mundo real. Essa chance deles voltarem de fato a sociedade após cumprirem sua sentença. Tendo um emprego já terão como começar uma vida nova.

‘Há tanto Tempo que Te Amo‘ é um líbelo ao amor fraternal. Mesmo a mais forte das criaturas, há de chegar uma hora que vai precisar da mão estendida de alguém não tão forte. Às lembranças pesadas, o tempo se encarregará em apagar. São, foram os espinhos…

O filme aborda um outro tema, que de certa forma também é algo que ainda não é tão aceito pela sociedade. Dai, também é interessante o debate que fará surgir após assistirem. Mas é melhor parar por aqui, para não correr o risco de trazer spoiler.

Assistam! É um filme belíssimo! Nota 10.


segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

“Medos Privados em Lugares Públicos” de Alain Resnais


 Alain Resnais é dentre os cineastas que conheço da História do Cinema, aquele que melhor conjuga cerebralismo com emoção. Ambos os elementos estão presentes de forma intensa e altamente equilibrada em seus filmes, sem que uma vertente ofusque a outra. Isto tem resultado em filmes mais ou então menos difíceis, onde temas como tempo, memória, imaginação, vida, morte e solidão, etc. são tratados com grandeza rara.

Se tivermos que reduzir “Medos Privados em Lugares Públicos” a um único tema primordial é certamente a solidão do homem urbano contemporâneo. Resnais ao mesmo tempo em que se solidariza com seus personagens, tratando-os com ternura, os olha um tanto à distância. Comparo o filme a uma teia de aranha, onde insetos ficam presos isoladamente, mas todos se mexem juntos ao menor movimento da teia.

Charlotte (Sabine Azéma) e Thierry (André Dussolier) trabalham numa imobiliária. Thierry vive com sua irmã bem mais nova, Gaélle (Isabelle Carré), que está ávida por encontros amorosos que programa por sites e anúncios, sem sucesso. Dan (Lambert Wilson) é um ex-militar desempregado, expurgado da corporação, que não procura emprego, vive com Nicole (Laura Morante) e se embriaga no hotel onde trabalha o barman Lionel (Pierre Ardit), seu confidente. Thierry procura um apartamento que agrade Nicole, onde ela pretende morar com Dan. Charlotte tem um outro trabalho como enfermeira do pai de Lionel (voz em off de Claude Rich) do qual vemos apenas os pés, um velho bastante ranzinza e intolerante.Charlotte ao mesmo tempo em que se mostra bastante religiosa, participa de fantasias eróticas fetichistas que transmite por gravação em vídeo ao seu colega Thierry, pertubando-lhe o desejo e a percepção. Dan separa-se de Nicole, por um tempo, num acordo mútuo e acaba conhecendo Gaélle.

O filme é segmentado em várias seqüências que não negam a origem teatral da trama, sendo que as tênues separações são feitas por uma onipresente neve caindo, num efeito belíssimo que ressalta a frieza que se instala nos corações solitários.

Mesmo no inferno em que aqui queima os seres, com um Deus impassível, o filmenos mostra , há momentos tênues, onde um aconchego é possível e um fugaz paraíso se instala. É o misticismo de Resnais que dá as caras em meio a uma visão cética, docemente ácida da solidão (irremediável?) dos seres, num universo de relações voláteis.

domingo, 19 de dezembro de 2010

Dois filmes e uma visão ética do mundo


O que um filme como “A Vida dos Outros” (Alemanha/2006),  de Florian Henckel von Donnersmarck tem a ver com “Central do Brasil”(1998) de Walter Salles? A relação de Salles com os road movies de Wim Wenders, cineasta de anos áureos do cinema alemão em que tínhamos Fassbinder, Schlöndorff, Kluge, Herzog e outros, é conhecida. Mas com o novato Florian o que há é uma identidade que não é formal e sim de visão ética do mundo. Ambos acreditam em transformações benignas do caráter humano mesmo em situações bastante adversas.

Em “Central do Brasil” acompanhamos a humanização da professora aposentada Dora que de trambiqueira que explorava analfabetos passa paulatinamente a ser, não sem oscilações, uma mãe substituta sensível de um garoto que corre risco de vida e quer juntar-se à família no Nordeste (um argumento que nos lembra, em parte, “Glória” (1980) de John Cassavetes). Em “A Vida dos Outros” somos testemunhas das transformações por que passa um rígido e profissional torturador, professor e espião da temida Stasi (polícia secreta da antiga República Democrática Alemã que contava com 100 mil membros oficiais e 200 mil informantes numa população de 17 milhões de pessoas) que invade e observa a vida de um escritor e sua namorada que é atriz.

No universo da Literatura o mais célebre personagem em que ocorre uma grande transformação espiritual é o Raskolnikoff de “Crime e Castigo” de Dostoiévski que de assassino convicto de uma velha usurária que desprezava, passa por intensa e dolorida busca, antes de qualquer coisa, por perdão a si mesmo. “A Vida dos Outros” não tem esta densidade filosófica e existencial. Mas dentro do tema das transmutações que pode ocorrer com as almas humanas tem pontos de contacto com este monumento literário.


Em “A Vida dos Outros” cada personagem responde questões com as quais nos defrontamos todos os dias: como lidar com poder e ideologia? Nós seguimos nossos princípios ou nossos sentimentos? Mais do que qualquer outra coisa, o filme é um drama humano sobre a habilidade dos seres humanos fazerem a coisa certa, não importa o quanto eles tenham percorrido uma trajetória errada.

Para mim a sequencia chave acontece quando um dos personagens fala, depois de tocar uma sonata de Beethoven ao piano:
“Você sabe o que Lênin disse sobre a “Apassionata”? Se eu ficar ouvindo isto eu não termino a revolução. Pode alguém que ouviu esta música, que a ouviu realmente, ser realmente uma má pessoa?”


 Com excelente aproveitamento da tela larga, é um thriller singular que num eixo central comunga com o estilo hitchcockiano e vai agregando camadas surpreendentes de sentidos, de 1984 até ultrapassar a glasnot de Gorbatchov e a queda do muro de Berlim em 1989, culminando num desfecho inesquecível e de grande densidade poética.

Garanto que vale a pena passar na sua locadora e alugar  um filme com eficiente estrutura de conto, sem pieguices, bastante urgente numa era em que estamos nos afogando num mar de cinismos e perdendo a fé no homem e no seu processo civilizatório. Este filme é " A Vida dos Outros"

sábado, 11 de dezembro de 2010

Quem tem medo de Virginia Woolf


O diretor Mike Nichols fez um excelente trabalho ao levar o roteiro adaptado da peça de Edward Albee para as telonas. Elizabeth Taylor e Richard Burton dão vida a Martha e George, um casal de meia-idade que vivem num mundo de ironia e sarcasmo, e que aproveitam da visita de outro casal para colocar os “pingos nos is” na sua relação.

Em meio a álcool e ofensas, o casal começa a se despir (metaforicamente falando) de todos os pudores e ilusões, fazendo com que a gente perceba o quanto se esconde debaixo do tapete de casamentos por conveniência. Anos de hipocrisia vão aparecendo, até que a mais grave das ilusões é desvendada.

Ao assistirmos o filme, acompanhamos o desconforto dos convidados, obrigados de uma maneira ou de outra, a ouvir toda a lavação de roupa suja e até a participar da DR mais famosa do cinema. Até quem nunca conviveu com pessoas tão perturbadas psicologicamente vai sentir compaixão pelos dois. E ódio, às vezes.

Quem Tem Medo de Virgínia Woolf? (Who’s Afraid of Virgínia Woolf?, 1966) conseguiu a façanha de ser indicado a TODAS as categorias do Oscar, sendo vitorioso em cinco delas. Liz Taylor ganhou seu segundo Oscar (o primeiro por Butterfield 8) e provou que não era só um rostinho (e corpinho) bonito na tela, aparecendo como uma mulher envelhecida e com muitos quilos a mais do que o público estava acostumado a ver.



Dizem que a própria relação do casal (casados na vida real na época) serviu de “laboratório” para dar tanta veracidade ao texto.Vale lembrar que o filme nada tem a ver com a escritora Virgínia Woolf, uma vez que a frase do título é um jogo de palavras com a canção “Quem tem medo do Lobo Mau” (“Who’s afraid of the bad Wolf”, no original), que serve de gancho para o convite ao casal para a visita à casa de George e Martha.


Pra quem gosta de cinema com um bom texto (quase que a totalidade do filme é fala sobre fala, às vezes deixando o espectador até confuso) e não tem medo de encarar os próprios fantasmas, muitas vezes refletidos na tela, Quem Tem Medo de Virgínia Woolf? é imperdível!

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

The Pillow Book, Peter Greenaway

 

“Prazer e repulsa, fetichismo, instabilidade emocional, condutas sexuais ambíguas, rejeição, ciúmes e morte. Em “O Livro de Cabeceira”, Peter Greenaway orquestra uma sinfonia visual contando a trajetória de Nagiko (Vivian Wu), uma jovem japonesa, em busca do derradeiro prazer edípico. Ou, melhor dizendo, eléktrio.
Nagiko cresce em uma tradicional família japonesa, sua mãe morreu, e seu pai (Ken Ogata), escritor, a cria com a ajuda da tia (Hideko Yoshida). A cada ano, em seu aniversário, seu pai escreve de forma ritualística uma saudação em seu rosto e nuca, esse é o momento em que são mais próximos, a única possibilidade de contato físico em meio à pompa e austeridade japonesas. Aqui começa o fetiche de Nagiko pela escrita. Com a mãe ausente, não há competição no desenvolvimento do complexo de Elektra, seu único prazer físico vem do contato com o pai através da escrita. Com o tempo, passa a aguardar ansiosamente o momento de sentir o contato do pincel com a pele, o gosto da tinta na boca. Sua tia a presenteia com um livro de uma escritora japonesa do final do século dez, chamada Sei Shonagon, o Livro de Cabeceira. Nesse livro, a autora escreve listas de coisas que lhe agradam, histórias de sua vida e principalmente de seus amantes.
Com uma direção de arte maravilhosa esse filme pode ser considerado uma orgia visual para os amantes das artes.
A luz, completamente expressiva, muitas horas faz dos planos quadros pintados a mão.
Neste filme foi utilizado um programa de montagem chamado paint box, que possibilita diversas formas de fusão e sobreposição. Fazendo uso desse programa, e inspirado nos sistemas orientais de escrita através da associação de símbolos – em que a fusão de duas palavras de significados diferentes e não correlatos à primeira vista gera uma terceira palavra, que seria um amálgama das que a originaram –, ele constrói imagens que chegam a unir seis planos diferentes em um único, a tela se divide entre texto escrito, passado, presente e pensamento. É praticamente impossível acompanhar cada um dos planos sobrepostos, e o objetivo não é esse. É, antes, que se obtenha uma impressão final da união de todos esses planos. Esse é um ponto básico da filmografia de Greenaway, o excesso de informação, excesso de referências visuais. No momento da morte de Jerome (Ewan Mcgregor), o editor abre em um computador imagens de quadros a óleo. São representações de São Jerônimo (342-420) que, quando jovem, era estudante de literatura pagã e traduziu a bíblia para o latim.
O Objetivo de Greenaway é que cada um tenha sua própria interpretação da obra, coisa que ele transferiu para suas apresentações multimidiaticas.
Essa “personalidade” e “liberdade de interpretação” que as obras de Greenaway normalmente nos dão, fazem cada experiência única e isso é apenas um dos grandes talentos de Greenway, fazer com que uma obra se desdobre em milhões.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Dzi Croquettes



Como esse é um dos posts que mais gosto resolvi republicá-lo. Espero que gostem! 

"Nem homem. Nem Mulher. Gente." Assim os Dzi Croquettes se definiam. Era uma gente extraordinária que, em plena ditadura militar, ousou quebrar a rigorosa censura vigente no Brasil com irreverência e graça. Pense em um bando de 13 homens peludos e escrachados que subiam ao palco em vestidinhos, meias-calças, saltos altíssimos, maquiagem pesada, piscando imensos cílios postiços em performances de dança, esquetes de comédia em espetáculo inclassificável, mas tão único que arrebatava fãs por onde passava.
A irreverência foi tanta que por vezes foram proibidos de se apresentar no País. Mas caíram nas graças do público brasileiro e também do europeu, mais precisamente de Paris. É a história desta gente extraordinária que Tatiana Issa e Raphael Alvarez resolveram contar quando começaram, há quase três anos, as filmagens de "Dzi Croquettes". Misturando docudrama e cuidadosa pesquisa de arquivos com entrevistas inéditas e uma edição apurada, já integra a lista de um dos mais premiados e bem recebidos documentários brasileiros da história.
Por falar em brasileiros, vale lembrar que Tatiana e Alvarez vivem em Nova York e não contaram com o apoio de investidores brasileiros para realizar o filme. "Foi muito difícil explicar nosso objetivo aos possíveis patrocinadores. E mais ainda entender os motivos dos ''nãos''. Afinal, queríamos contar uma parte da história recente do Pais que os mais velhos já estavam esquecendo e que os mais jovens talvez nunca conheceriam. No entanto, esbarramos muitas vezes no preconceito escondido em relação aos temas que o filme levanta, como liberdade sexual, aids. Só na fase de pós-produção conseguimos o apoio do Canal Brasil", comentam os diretores.
Prêmios, prêmios... Se os investidores não entenderam a proposta, o público entendeu e premiou. "Dzi Croquettes" estreou no Brasil no Festival do Rio, em outubro de 2009, e saiu de lá como o melhor documentário segundo o júri popular e o oficial. Levou também o prêmio do público na Mostra de São Paulo, no Cine Fest Goiânia, no Torino GLTB Film Festival, e no Los Angeles Brazilian Film Festival. "Para quem fez o filme em um esquema totalmente pessoal, com uma equipe reduzidíssima, depois do horário de trabalho, vê-lo estrear é já um prêmio", diz Tatiana, que é atriz com vasto currículo, mas hoje trabalha no mercado financeiro em Nova York.
                                                Fonte: Estadão.com.br