domingo, 27 de fevereiro de 2011

Só Garotos, Patti Smith


“Tem gente que nasce rebelde. Lendo a história de Zelda Fitzgerald, identifiquei-me com seu espírito insubordinado. Lembro de passear com minha mãe olhando vitrines e perguntar por que as pessoas não chutavam e quebravam aquilo.” É com esse tom franco e irreverente - e ao mesmo tempo doce e poético - que Patti Smith revive sua história ao lado do fotógrafo Robert Mapplethorpe, enquanto os dois tentavam ser artistas e transformar seus impulsos destrutivos em trabalhos criativos.
Crescida numa família modesta de Nova Jersey, Patti trabalhou em uma fábrica e entregou seu primeiro filho para adoção, antes de se mandar para Nova York, com vinte anos, um livro de Rimbaud na mala e nada no bolso.O sonho de muita gente, afinal, era o final dos anos 1960, e Patti teve de se virar como pôde: morou nas ruas de Manhattan, dividiu comida com um mendigo, trabalhou e dormiu em livrarias e até roubou os colegas de trabalho, enquanto conhecia boa parte dos aspirantes a artistas que partilhavam a atmosfera contestadora do famoso “verão do amor”. Foi então que conheceu o rapaz de cachos bastos que seria sua primeira grande paixão: o futuro fotógrafo Robert Mapplethorpe, para quem Patti prometeu escrever este livro, antes que ele morresse de aids, em 1989.
Só garotos é uma autobiografia cativante e nada convencional. Tendo como pano de fundo a história de amor entre Patti e Mapplethorpe, o livro é também um retrato apaixonado, lírico e confessional da contracultura americana dos anos 1970, desfiado por uma de suas maiores expoentes vivas.
Muitas vezes sem dinheiro e sem emprego, mas com disposição e talento de sobra, os dois viveram intensamente períodos de grandes transformações e revelações - até mesmo quando Robert assume ser gay ou quando suas imagens ousadas e polêmicas começam a ser reconhecidas e aclamadas pelo mundo da arte. Ao refazer os laços sinceros de uma relação muito peculiar, Patti Smith revela-se uma escritora e memorialista de grande calibre - e o modo como seu texto reflete a lealdade dos dois é comovente, apesar de todas as diferenças.
Pincelado com imagens raras do acervo de Patti Smith, Só garotos pode ser lido como um romance de formação de dois grandes artistas do século XX, que apostaram na ousadia, na liberdade e na beleza como antídotos à massificação - e contra todas as recomendações.

6 comentários:

  1. Não conhecia, mas está anotada a indicação. Um abraço!

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  2. Adorei a dica Evandro !
    Curto muito biografias, são bem mais verdadeiras que romances inventados.

    beijos e bom domingo !

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  3. Caraca! Ela passou por grandes momentos dificeis, não foi nada fácil...
    Forte abraço!

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  4. Eu gosto de autobiografias.. gostei do texto me instigou a ler o mesmo..rs..

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  5. Evandro, sua dica de hoje não vai encontrar acolhimento comigo. Já explico: não tenho respeito por garotas mucho locas que entregam filhos para adoção.Como pai adotivo solteiro e gay aprendi a duras penas a dar valor a pessoas que se ferram para arcar com seus feitos, que passam fome juntos se for o caso e dão outro rumo às suas vidas para criar um filho. Ela poderia ter feito tudo o que fez, e muito mais, menos a parte de dar o filho. angelo

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  6. Me identifiquei em muitas coisas e como mãe, posso entender o que é entregar um filho a adoção. Por também, sempre, ter sido vista como louca por ter sido mãe tão nova,passei por maus bocados, mas nunca passei fome e entre ver meu filho morrer de fome e ou entrega-lo para adoção, eu, por amor inexplicável de mãe,o entregaria a uma nova melhor possibilidade de vida.
    Que lindo o amor do Angelo, entendo também sua opinião.
    Obrigada, Evandro, por esse post que além de uma bela dica, nos deu a possibilidade de dialogar.
    Beijos!

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