terça-feira, 24 de maio de 2011

Maria Bethania por Caio Fernando Abreu


De jeans e camiseta, cabelo preso, aos gritos de "pega, mata e come!", Bethânia já foi musa da esquerda, tempos do show Opinião. Graças ao acaso – se acaso existe e não, destino - que trouxe a menina Berré de Santo Amaro da Purificação, Bahia, para os palcos do centro do país. Peruca canecalon, coberta de colares e pulseiras, gestos largos, recitando Fernando Pessoa e Clarice Lispector – Bethânia foi musa. A voz muito grave, sussurrando versos sensuais, embalou os amores dos casais pelos motéis, rivalizando na vendas de discos com o rei Roberto Carlos. Prendeu, soltou os cabelos, calçou, tirou os sapatos, largou as gravadoras comerciais, no auge do sucesso, trajetória inversa, tornou-se independente: conquistou o direito de gravar o que gosta, num repertório coerente e fiel à musica brasileira.
Foram muitas Bethânias nesses mais de 20 anos. Ou era um só? O escritor Júlio Cortázar, fã confesso (não fosse um iniciado em magia), afirmava que Bethânia e Caetano são uma única pessoa: yin/yang, homem/mulher, Oxóssi/Iansã. Foi muito in, ficou inteiramente out – até ultrapassar as divisões maniqueístas dos manipuladores da opinião pública para ocupar esse lugar muito especial só reservados ao mitos. Bethânia, deusa guerreira, de espada em punho e voz rouca, inconfundível, procurando sempre versos que falem às emoções dos apaixonados. Gosta-se dela como se cai em estado de paixão: além de qualquer razão.
E bela. Bela de um jeito que não é comum ser bela, cantora como não é comum ser cantora – nesse desregramento de padrões estéticos, Bethânia funde a aspereza de onde começa o Nordeste com o requinte dos blues de uma Billie Holiday. Cantora diurna das terras crestadas pelo sol, mas também noturna, dos lençóis de cetim úmidos de suor e amor, transita numa carreira de impecável coerência com sua própria criatura: dividida em mel e espada. Padroeira dos apaixonados, também divididos entre o mel e a espada cortante da vingança. Dessa extensa legião, Maria Bethânia é a voz mais fiel.


6 comentários:

  1. SEM DÚVIDAS! Bethânia é INCONFUNDÍVEL, INCOMPARÁVEL E INIGUALÁVEL!

    bjoxxxxxxxxx no coração!

    ResponderExcluir
  2. Bethânia, a voz inconfudivel, da qual sempre temos um música especial, aquela que ela canta pra gente e pela gente. E Caio F. é uma maravilha (até quando é dolorido) de se ler sempre, em qualquer ocasião.

    ResponderExcluir
  3. Oi Evandro, tudo bem?
    Menino, Bethânia é maravilhosa, tem uma voz incrível e quando ela declama algum poema, nos faz babar né? rsrsrs
    E Caio F. tbm é sem comentários, tenho alguns livros dele e são sem dúvida esplêndidos.
    Abraços
    Ah, faz um favor pra mim? Visite meu blog e vote em mim para o prêmio TopBlog, é só clicar no selo que se encontra no lado esquerdo do blog. Depois vc será redirecianado para a página da votação. Escolha se seu voto será via e-mail ou twitter, se for os dois melhor, rsrs. Aí vc irá receber um e-mail do TopBlog acompanhando de um link, para a validação do seu voto, aí é só clicar. Se puder, peça para seus amigos votatem em mim tbm, rsrs. Nossa como sou cara de pau né? kkkkkk
    Obrigado viu?

    ResponderExcluir
  4. Eu sou um fã confesso da Bethania. Uma das miores cantoras e interprete do mundo! Um grande abraço.

    ResponderExcluir
  5. Bethânia é incomparável!
    Sem dúvida alguma é a melhor cantora da música popular brasileira.
    É completa, saber cantar, interpretar, escolher boas músicas, produzir bons cds...Bethânia tem um dos melhores ouvidos entre os músicos deste país. E no palco não existe ainda nenhum cantor ou cantora com tanta energia e brilho como ela.
    É uma DIVA.


    Gostei muito da descrição do Caio.

    ResponderExcluir
  6. Nossa que definição genial e poética de Bethânia!
    E esse vídeo uma delícia.
    Gosto mesmo daqui Evandro e de ti meu camarada!
    Abraço!

    ResponderExcluir