quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Pois a questão-chave é: Sob que máscara retornará o recalcado?





Sonho o poema de arquitetura ideal
Cuja própria nata de cimento
Encaixa palavra por palavra, tornei-me perito em extrair
Faíscas das britas e leite das pedras.
Acordo;
E o poema todo se esfarrapa, fiapo por fiapo.
Acordo;
O prédio, pedra e cal, esvoaça
Como um leve papel solto à mercê do vento e evola-se,
Cinza de um corpo esvaído de qualquer sentido
Acordo, e o poema-miragem se desfaz
Desconstruído como se nunca houvera sido.
Acordo! os olhos chumbados pelo mingau das almas
E os ouvidos moucos,
Assim é que saio dos sucessivos sonos:
Vão-se os anéis de fumo de ópio
E ficam-me os dedos estarrecidos.
Metonímias, aliterações, metáforas, oxímoros
Sumidos no sorvedouro.
Não deve adiantar grande coisa permanecer à espreita
No topo fantasma da torre de vigia
Nem a simulação de se afundar no sono.
Nem dormir deveras.
Pois a questão-chave é:
Sob que máscara retornará o recalcado?



Entenda o conceito de recalque e retorno do recalcado em:

2 comentários:

  1. Amigo.. eu estava lendo agorinha o texto sobre o Recalque... que profundo... muito
    util pra meus estudos... ainda não terminei.. quero mesmo aprender... quanto recalque tenho! Não tinha percebido que eram.... interessante...
    e esta poesia toda de Adriana Calcanhoto.. sua voz... sua presença de Diva ( Divina! )

    Evandro, és um ser muito sensível...especial! Um Sentidor do mundo!... incrível!

    Grato por partilhar!

    Me avise dos posts sempre!

    Abraço!

    ResponderExcluir