domingo, 27 de março de 2011

Só melhoro quando chove.




 Essa “dona doida” Adélia Prado, que apareceu nos anos 70 (com o extraordinário Bagagem) na poesia brasileira, dando um novo significafo-requinte à poesia do quotidiano.


Uma vez, quando eu era menina, choveu grosso

com trovoadas e clarões, exatamente como chove agora.

Quando se pôde abrir as janelas,

as poças tremiam com os últimos pingos.

Minha mãe, como quem sabe que vai escrever um poema,

decidiu inspirada: chuchu novinho, angu, molho de ovos.

Fui buscar os chuchus e estou voltando agora,

trinta anos depois. Não encontrei minha mãe.

A mulher que me abriu a porta, riu de dona tão velha,

com sombrinha infantil e coxas à mostra.

Meus filhos me repudiaram envergonhados,

meu marido ficou triste até a morte,

eu fiquei doida no encalço.

Só melhoro quando chove.


domingo, 13 de março de 2011

Eu quero ser a cigana analfabeta lendo a mão de Paulo Freire


Beradêro

Os olhos tristes da fita
Rodando no gravador
Uma moça cosendo roupa
Com a linha do Equador
E a voz da Santa dizendo
O que é que eu tô fazendo
Cá em cima desse andor

A tinta pinta o asfalto
Enfeita a alma motorista
É a cor na cor da cidade
Batom no lábio nortista
O olhar vê tons tão sudestes
E o beijo que vós me nordestes
Arranha céu da boca paulista

Cadeiras elétricas da baiana
Sentença que o turista cheire
E os sem amor os sem teto
Os sem paixão sem alqueire
No peito dos sem peito uma seta
E a cigana analfabeta
Lendo a mão de Paulo Freire

A contenteza do triste
Tristezura do contente
Vozes de faca cortando
Como o riso da serpente
São sons de sins, não contudo
Pé quebrado verso mudo
 Grito no hospital da gente
                Chico César 


quarta-feira, 9 de março de 2011

Os 10 Filmes Mais Premiados do Oscar



Aproveitando a onda de comentários feitos a respeito da 83° edição do Oscar, que rolou no dia 27 de fevereiro, o sabor da letra vai revelar quais foram os filmes mais premiados com essa estatueta. Como há diversos longas que levaram o mesmo número de prêmios, levarei em consideração o ano de lançamento do filme.



10. Sindicato de ladrões (1954): 8 estatuetas
Melhor Filme, Melhor Direção (Elia Kazan), Melhor Direção de Arte, Melhor Ator (Marlon Brando), Melhor Atriz Coadjuvante (Eva Marie Saint), Melhor Roteiro, Melhor Fotografia e Melhor Edição.



Esse é o longa que deu ao ator Marlon Brando seu primeiro Oscar, ao interpretar um boxeador (ele viria a ganhar o prêmio novamente em 1972, em O Poderoso Chefão).

9. A um passo da eternidade (1953): 8 estatuetas
Melhor Filme, Melhor Direção (Fred Zinnemann), Melhor Ator Coadjuvante (Frank Sinatra), Melhor Atriz Coadjuvante (Donna Reed), Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Fotografia, Melhor Som e Melhor Edição.


O filme que levou 8 estatuetas do Oscar teve uma refilmagem para a TV americana em formato de minissérie. Uma anotação curiosa de metalinguagem a respeito desse longa: o ator Eli Wallach tinha aceitado o papel de “Angelo Maggio”, mas mudou de ideia por ter preferido atuar na peça teatral da Broadway Camino Real, produzida por Elia Kazan. O filme O Poderoso Chefão (1972) explora a história, mostrando que na verdade o ator teria sido “convencido” pela máfiaa desistir do papel, para que Frank Sinatra pudesse interpretá-lo em seu lugar, pois na época o cantor estava em baixa.


8. E o vento levou (1939): 8 estatuetas
Melhor Filme, Melhor Direção (Victor Fleming), Melhor Direção de Arte, Melhor Atriz Coadjuvante (Hattie McDaniel), Melhor Atriz (Vivien Leigh), Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Fotografia e Melhor Montage


Na realidade, o filme levou 10 estatuetas no Oscar de 1940. Ocorre que duas delas foram de prêmios especiais e não serão contabilizados na nossa contagem por não existirem em todas as edições da premiação. Esses dois prêmios inéditos devem-se ao fato de o longa ser pioneiro em diversas tecnologias de imagem: o Oscar Técnico foi oferecido pelo pioneirismo na utilização de equipamentos coordenados e o Oscar Honorário, pelo desempenho no uso de cores para valorização do humor dramático.


7. O paciente inglês (1997): 9 estatuetas
Melhor Filme, Melhor Direção (Anthony Minghella), Melhor Direção de Arte, Melhor Atriz Coadjuvante (Juliette Binoche), Melhor Fotografia, Melhor Figurino, Melhor Edição, Melhor Trilha Sonora e Melhor Mixagem de Som.



Esse filme, que levou 9 estatuetas, é baseado no romance homônimo de Michael Ondaatje. A atriz Kristin Scott Thomas foi escalada após ter enviado uma cartinha ao diretor Anthony Minghella na qual lia-se “Eu sou ‘K’ no seu filme”, uma referência à sua personagem Katharine no livro de Michael Ondaatje: “Eu sou ‘K’ no seu livro?”. Criatividade leva a gente longe.

6. O último imperador (1987): 9 estatuetas
Melhor Filme, Melhor Direção (Bernardo Bertolucci), Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Direção de Arte, Melhor Figurino, Melhor Edição, Melhor Trilha Sonora, Melhor Fotografia e Melhor Som.


O filme, que ganhou o prêmio em todas as 9 categorias ao qual foi indicado, é uma biografia de Aisin-Gioro Pu Yi, o último imperador da China Imperial. Talvez por isso tenha sido o primeiro longa a ter autorização do governo da China para filmar na Cidade Proibida.

5. Gigi (1958): 9 estatuetas
Melhor Filme, Melhor Direção (Vincente Minnelli), Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Direção de Arte, Melhor Figurino, Melhor Edição, Melhor Trilha Sonora, Melhor Fotografia e Melhor Canção Original.

Gigi, que levou 9 estatuetas, é uma comédia romântica musical. Curiosidade totalmente irrelevante: o filme entrou no Guinness Book em 2008, como menor nome original de um filme que ganhou o Oscar.

4. Amor, sublime amor (1961): 10 estatuetas
Melhor Filme, Melhor Direção (Robert Wise), Melhor Direção de Arte, Melhor Atriz Coadjuvante (Rita Moreno), Melhor Ator Coadjuvante (George Chakiris), Melhor Fotografia, Melhor Figurino, Melhor Edição, Melhor Trilha Sonora e Melhor Som.


O musical dramático que levou 10 estatuetas é, na realidade, a adaptação de um número da Broadway e ocupa a segunda posição da Lista dos Maiores Musicais Estadunidenses de Todos os Tempos, elaborada pelo American Film Institute (AFI). Como o filme conta a história das brigas entre gangues de rua, os produtores tentaram criar uma certa rixa entre os atores que interpretavam os grupos rivais: davam roteiros limpos e organizados e camarins perto das locações ao elenco dos Jets, enquanto o elenco dos Sharks ganhava roteiros sujos e confusos, além de camarins distantes dos sets de filmagem. Pelo jeito, a técnica deu certo.


3. O senhor dos anéis – O retorno do rei (2003): 11 estatuetas
Melhor Filme, Melhor Direção (Peter Jackson), Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Direção de Arte, Melhor Figurino, Melhor Maquiagem, Melhores Efeitos Visuais, Melhor Edição, Melhor Trilha Sonora, Melhor Mixagem de Som e Melhor Canção Original.




O filme que encerra a trilogia O Senhor doas Anéis ganhou todas as indicações que teve, levando 11 estatuetas. Ele também ocupa a sétima bilheteria da história do cinema: faturou US$ 1.390.530.963 (é muito algoritmo em um só número).

2. Titanic (1997): 11 estatuetas
Melhor Filme, Melhor Direção (James Cameron), Melhor Direção de Arte, Melhor Fotografia, Melhor Figurino, Melhores Efeitos Visuais, Melhor Edição, Melhor Trilha Sonora, Melhor Mixagem de Som, Melhor Edição de Som e Melhor Canção Original.

Muita gente diz que Titanic não merecia levar todos os prêmios que ganhou (o filme possui 243 erros de sequência, imagem etc.). Mas, sejamos justos, a equipe deu duro: a água usada nas gravações estava realmente fria (já que o vapor da água quente embaçaria as lentes das câmeras) James Cameron passou 12 horas em um submarino para investigar os destroços do navio original e ainda teve que inventar uma câmera que suportasse a pressão sob 4.000 metros de profundidade do oceano, que foi usada para realizar as gravações do Titanic Original. Além disso, com o dinheiro gasto para a produção do filme e a construção da réplica do navio (200 milhões de dólares), dava para ter construído outro Titanic.

1. Ben-Hur (1959): 11 estatuetas
Melhor Filme, Melhor Direção (William Wyler), Melhor Direção de Arte, Melhor Ator (Charlton Heston), Melhor Ator Coadjuvante (Hugh Griffth), Melhor Fotografia, Melhor Figurino, Melhores Efeitos Especiais, Melhor Montagem, Melhor Trilha Sonora e Melhor Som.

Apesar de ser a terceira adaptação da história para as telonas, essa versão ficou consagrada ao levar 11 estatuetas. O filme também foi uma tentativa bem-sucedida da Metro-Goldwyn-Mayer (MGM) de sair da ameaça de falência. Uma outra curiosidade interessante a respeito de Ben-Hur é que foi utilizado um composto químico para azular a água usada no tanque para as cenas de guerra marítima. Ocorre que um figurante caiu no reservatório e ao sair estava totalmente azul. A MGM teve que pagar o salário para o ator por meses, até sua pele voltar ao normal.

Fonte: Os 10 Mais – 250 listas que todo mundo deveria conhecer e CinePlayers.


Belmondo & Milton Nascimento - Ponta De Areia


Para fechar esses dias de descanso, muita música boa e leituras em dia.

Dedico esse vídeo aos amigos mais do que especiais:

Si e Matheus.



sábado, 5 de março de 2011

Uma Deusa chamada Marlene



Fascinante!- era esta a palavra com a qual a alemã Marlene Dietrich era, e continua, a ser rotulada por muitos. Dançarina de cabaré, nem ela sonhava o furor que faria anos mais tarde.

Marie Magdelene Von Losch nasceu em Berlim, a 27 de Dezembro de 1901. O início da sua carreira foi duro até ascender ao patamar das estrelas. De início dançando em cabarés e teatros da cidade de Berlim, exibindo as suas belas pernas, Marlene Dietrich nunca teve qualquer pudor em exibir a sua homossexualidade. Era, por isso, uma mulher falada, distante dos padrões morais da Berlim daqueles tempos, ainda que os espaços noturnos para gays já proliferassem em abundância pela cidade.

Apreciava mulheres e homens, e isso era do conhecimento público. Marlene viria a casar-se com Rudolf Simmer, assistente de direção, embora a data certa seja um pouco discutível, sabendo-se que foi no início dos anos 20, possivelmente em 1924 Ainda assim, fala-se que Marlene nunca tenha deixado para trás a sua amante de longa data, Tamara, e que o seu anterior namorado, um padeiro de nome Willy Michel, a tenha marcado para sempre. Ainda assim, as biografias sobre a diva não falam deste homem. Depois de já ter sido mãe de uma menina, Maria Riva, o único rebento de Marlene conjuntamente com Rudolf, Marlene Dietrich foi descoberta por Josef Von Sternberg. Eram os finais dos loucos anos 20, tempo antes de Marlene ir para os Estados Unidos com o diretor e tornar-se uma estrela.

Foi com o ‘Anjo Azul’, em 1929, que o fenomeno Marlene Dietrich saltaria para o mundo. Fazendo o papel de um dançarina de cabaré, de nome Lola-Lola, este foi o filme que a lançaria para a rampa do sucesso e da sensualidade. ‘Da cabeça aos pés, eu sou feita para o amor’- esta foi a frase que marcou o filme ‘O Anjo Azul’, e que Marlene Dietrich interpretava. Hollywood abriu as portas para Marlene Dietrich, e a mítica ‘vamp’, como era conhecida, não mais parou na sua ascensão ao êxito.



Amante do homem que a lançou para o estrelato, Sternberg, Marlene Dietrich renunciou totalmente qualquer laço com os alemães por conta da Segunda Guerra Mundial. Dizia ela ser contra o nazismo, permanecendo assim no cinema americano e renunciando às artes cinematográficas alemãs. Chegou mesmo a ser encarada, por causa desta sua renúncia, uma traidora da pátria alemã. Sempre muito preocupada com a sua privacidade, Marlene Dietrich era uma mentirosa compulsiva. Muitas eram as situações em que dizia uma coisa, para tempos depois contradizer tamanha verdade. E, assim, são muitos os pontos de interrogação relativamente a várias situações da sua vida.

Fez também furor enquanto cantora, dando uma maior vida a esta sua faceta nos anos 50. Não que tivesse uma voz digna de um destaque notável, mas porque a rouquidão da mesma seduzia qualquer ouvido. Em meados da década de 70, por ocasião de um espectáculo em Sydney, Marlene teve um acidente que lhe valeu a fratura da bacia e perna. Nessa altura, foi viver em Paris com a sua empregada. Em cadeira de rodas, Marlene Dietrich não permitia que ninguém a visse. Essa imagem impotente, para uma das mulheres mais belas de sempre, era algo que a revoltava. Por isso, apenas a filha, netos, e o médico tinham permissão para a ver.

Afastada dos palcos e das telas do cinema, Marlene dedicou-se a escrever a sua própria biografia, ‘O ABC de Marlene Dietrich’, muito longe da realidade e dos seus próprios traços pessoais. Um ano após a sua morte foi lançado um livro da autoria da sua filha, que dá a conhecer Marlene Dietrich como uma mulher fria e violenta. A ‘devoradora de homens’, como assim ficou conhecida nos circuitos sociais e artísticos da época, foi uma mulher de muitos amores, tantos homens como mulheres. Aliás, o escritor Ernest Hemingway, apaixonado por Marlene durante muito tempo, escreveria mesmo que ‘ela pode derreter um homem com um levantar de sobrancelhas e destruir uma rival com o olhar’.

Segundo inúmeras biografias sobre Marlene Dietrich os seus envolvimentos amorosos foram diversos.Porém, na sua longa lista de relações, com homens e mulheres, estão também figuras públicas como foi o caso de Greta Garbo, Frank Sinatra ou John F. Kennedy. Marlene Dietrich foi uma mulher controversa, que mesmo depois de morta continua a ser motivo de notícia. O Anjo Azul faleceu a 5 de Maio de 1992, certa de que conquistou muitos corações.