segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

“Medos Privados em Lugares Públicos” de Alain Resnais


 Alain Resnais é dentre os cineastas que conheço da História do Cinema, aquele que melhor conjuga cerebralismo com emoção. Ambos os elementos estão presentes de forma intensa e altamente equilibrada em seus filmes, sem que uma vertente ofusque a outra. Isto tem resultado em filmes mais ou então menos difíceis, onde temas como tempo, memória, imaginação, vida, morte e solidão, etc. são tratados com grandeza rara.

Se tivermos que reduzir “Medos Privados em Lugares Públicos” a um único tema primordial é certamente a solidão do homem urbano contemporâneo. Resnais ao mesmo tempo em que se solidariza com seus personagens, tratando-os com ternura, os olha um tanto à distância. Comparo o filme a uma teia de aranha, onde insetos ficam presos isoladamente, mas todos se mexem juntos ao menor movimento da teia.

Charlotte (Sabine Azéma) e Thierry (André Dussolier) trabalham numa imobiliária. Thierry vive com sua irmã bem mais nova, Gaélle (Isabelle Carré), que está ávida por encontros amorosos que programa por sites e anúncios, sem sucesso. Dan (Lambert Wilson) é um ex-militar desempregado, expurgado da corporação, que não procura emprego, vive com Nicole (Laura Morante) e se embriaga no hotel onde trabalha o barman Lionel (Pierre Ardit), seu confidente. Thierry procura um apartamento que agrade Nicole, onde ela pretende morar com Dan. Charlotte tem um outro trabalho como enfermeira do pai de Lionel (voz em off de Claude Rich) do qual vemos apenas os pés, um velho bastante ranzinza e intolerante.Charlotte ao mesmo tempo em que se mostra bastante religiosa, participa de fantasias eróticas fetichistas que transmite por gravação em vídeo ao seu colega Thierry, pertubando-lhe o desejo e a percepção. Dan separa-se de Nicole, por um tempo, num acordo mútuo e acaba conhecendo Gaélle.

O filme é segmentado em várias seqüências que não negam a origem teatral da trama, sendo que as tênues separações são feitas por uma onipresente neve caindo, num efeito belíssimo que ressalta a frieza que se instala nos corações solitários.

Mesmo no inferno em que aqui queima os seres, com um Deus impassível, o filmenos mostra , há momentos tênues, onde um aconchego é possível e um fugaz paraíso se instala. É o misticismo de Resnais que dá as caras em meio a uma visão cética, docemente ácida da solidão (irremediável?) dos seres, num universo de relações voláteis.

7 comentários:

  1. Esse filme ñ conheço, mas seu comentário me deixou curioso para assistir. De Alain Resnais só conheço Meu Tio da América e Amor à Morte, dois trabalhos belíssimos.

    Abraço e até mais

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  2. Blog muito legal. Fiquei curioso em assistir esse filme. Estou te seguindo, me segue também.

    abraços e fique com Deus

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  3. Que saudade deste filme! faz realmente bastante tempo que o vi, há mais de um ano e meio, acredito. Até então não conhecia muito do estilo do Resnais e hoje, lendo teu post, vejo o quanto este trabalho se difere de outros que ele já fez. Neste a incompletude humana ganha mais espaço, a meu ver, mostrando a dificuldade de muitos daqueles personagens em lidarem com o vazio.

    Parabéns pelo texto!

    abraços,
    www.cinefreud.com

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  4. Evandro!
    Fico agradecido pelas palavras, concordo plenamente com o que mencionou, as palavras surgem de alma e de coração, seja como for vc tem desenvolvido muito bem este espaço que é só seu!
    Mais uma vez obrigado pelas palavras, desejo a vc muito sucesso!
    Abraço

    (Seguindo)

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  5. ótima dica, nunca tinha ouvido falar nesse filme!

    obrigado pelo comentário em meu blog, como vc disse o blog é o espaço para dividirmos com as pessoas, coisas que gostamos, concordo plenamente!

    vou te seguir, abraço!

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